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CLÓVIS ROSSI
É coisa do além
SÃO PAULO - Você certamente passou o ano ouvindo falar em crise ou
sentindo-a na pele. Desemprego, violência, queda de renda, juro alto, lojas vazias, tiros perdidos, o diabo.
Aí, vem a pesquisa sobre a popularidade do presidente da República e
ele ganha nota 6,3. Não é brilhante,
mas, para os padrões conformistas da
pátria, está de bom tamanho.
Depois, vem a pesquisa sobre a popularidade dos governadores e todos
os dez avaliados pelo Datafolha estão
muito bem.
A menor nota é de Rosinha Garotinho (5,9), também medíocre, mas,
pelo volume de problemas que o Rio
de Janeiro enfrenta e que a Rede Globo mostra, não poderia ser melhor.
Aí, você, que adora desconfiar do
jornalismo tupiniquim (ou de qualquer jornalismo), faz uma cara de
maroto e diz para o colega do lado:
"Não te falei que não dá para acreditar em jornal. Esses caras só sabem
falar em desgraças, inventam desemprego, violência, só para vender jornal. Se tivesse crise, você acha que os
governadores e o presidente estariam
tão bem avaliados?".
Só tem um probleminha nesse seu
raciocínio: até a imprensa se sai bem
nas pesquisas -conforme a mais recente delas, que a coloca entre as instituições de maior poder e de maior
prestígio na praça.
A grande maioria do público, portanto, também não deve achar que é
invenção dos jornais a crise (ou as dificuldades ou que nome você queira
dar à, digamos, "herança maldita").
Logo, as dificuldades existem, mas
não são culpa nem do presidente
nem dos governadores.
Talvez dos prefeitos, talvez dos congressistas. Ou, então, vai ver que
Deus desistiu de ser brasileiro (corria
o risco de desmoralização) e rogou
uma praga.
Ninguém tem culpa de nada, é coisa do além.
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