São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

É coisa do além

SÃO PAULO - Você certamente passou o ano ouvindo falar em crise ou sentindo-a na pele. Desemprego, violência, queda de renda, juro alto, lojas vazias, tiros perdidos, o diabo.
Aí, vem a pesquisa sobre a popularidade do presidente da República e ele ganha nota 6,3. Não é brilhante, mas, para os padrões conformistas da pátria, está de bom tamanho.
Depois, vem a pesquisa sobre a popularidade dos governadores e todos os dez avaliados pelo Datafolha estão muito bem.
A menor nota é de Rosinha Garotinho (5,9), também medíocre, mas, pelo volume de problemas que o Rio de Janeiro enfrenta e que a Rede Globo mostra, não poderia ser melhor.
Aí, você, que adora desconfiar do jornalismo tupiniquim (ou de qualquer jornalismo), faz uma cara de maroto e diz para o colega do lado: "Não te falei que não dá para acreditar em jornal. Esses caras só sabem falar em desgraças, inventam desemprego, violência, só para vender jornal. Se tivesse crise, você acha que os governadores e o presidente estariam tão bem avaliados?".
Só tem um probleminha nesse seu raciocínio: até a imprensa se sai bem nas pesquisas -conforme a mais recente delas, que a coloca entre as instituições de maior poder e de maior prestígio na praça.
A grande maioria do público, portanto, também não deve achar que é invenção dos jornais a crise (ou as dificuldades ou que nome você queira dar à, digamos, "herança maldita"). Logo, as dificuldades existem, mas não são culpa nem do presidente nem dos governadores.
Talvez dos prefeitos, talvez dos congressistas. Ou, então, vai ver que Deus desistiu de ser brasileiro (corria o risco de desmoralização) e rogou uma praga.
Ninguém tem culpa de nada, é coisa do além.


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