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ELIANE CANTANHÊDE
Fanfarrice
BRASÍLIA - A decisão judicial de fotografar e tirar as impressões digitais
de americanos que desembarcam no
Brasil é quase uma brincadeira, das
bem gostosas.
Inócua, porque não leva a nada
nem a ninguém. Inútil, porque não
há serventia nenhuma nem nas fotos
nem nas digitais. E desgastante, porque os policiais e os gringos perdem
tempo. Mas o efeito moral é bom.
Afinal, a decisão do governo Bush
de exigir uma identificação mais "sofisticada" de estrangeiros que precisam de visto -caso dos brasileiros-
é igualmente inócua, inútil e desgastante. É assim que eles vão evitar
atentados? Os brasileiros têm tradição de jogar bombas nos outros? Ou a
medida não é contra o terrorismo,
mas, sim, contra a imigração?
Nós ficamos de alma lavada, principalmente os que já passamos horas
em aeroportos americanos, onde há
uma visível diferença de tratamento
entre estrangeiros de países ricos e
pobres -como os latino-americanos.
O governo Lula está numa boa, dizendo que não tem nada com isso.
Trata-se de uma decisão judicial, e
decisão judicial cumpre-se, ponto.
Um ou outro alto funcionário tem
até tido compaixão dos americanos,
coitados, naquelas filas horrorosas,
sujando os dedões. Mas, no íntimo, e
principalmente no Itamaraty e em
setores do Planalto, há gente adorando a história e querendo dar um beijo
na testa do juiz. Até porque a base de
tudo é o princípio da soberania e da
reciprocidade entre os países.
Apesar de tudo isso, essa sensação
de alma lavada é passional e passa.
Essa chatice contra cidadãos americanos não pode durar muito, porque
a PF nem tem onde meter tanta foto
de caras e dedos e porque a decisão
pode estar mirando no governo Bush
e acertando no alvo errado: americanos que gostam do Brasil ou têm curiosidade, parentes, amigos ou negócios no país. E que (como chute) podem nem gostar muito de Bush.
Enfim, a brincadeira é até bem legal e a torcida adora, mas chega uma
hora em que cansa. É preciso jogar a
sério -e em outros campos.
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