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CARLOS HEITOR CONY
A degola dos inocentes
RIO DE JANEIRO - Houve tempo em que havia reis magos. Para falar a
verdade, ainda existem reis e magos.
A Espanha tem o rei Juan Carlos, e o
Brasil tem o mago Paulo Coelho. O
difícil é juntar os dois, a mistura não
seria boa nem para o rei nem para o
mago.
Hoje é Dia dos Reis Magos. Discute-se há séculos se eram realmente reis e
magicamente magos. O fato é que viram uma estrela no Oriente e foram,
"cum muneribus", isto é, com presentes, adorar um menino que nascera
numa manjedoura em Belém.
Apesar da estrela que os guiava,
perguntaram onde ficava a tal manjedoura, pois queriam adorar um rei
que acabara de nascer. E aí um outro
rei, que nem era mago, mandou matar todas as criancinhas para não ter
nenhum sucessor. Séculos depois, Rubens e outros pintores fizeram quadros alusivos ao episódio, que passou
à história como a "matança dos inocentes". Mães descabeladas tentando
salvar os filhos que iam ser degolados
pelos esbirros de Herodes.
À primeira vista, tudo pode ser atribuído a tempos antigos, quando o
poder era disputado na base da porrada. A humanidade civilizou-se,
mas não tanto. É comum um rei fazer tudo para não perder seu reinado.
E, mesmo nas democracias, há sempre aquele momento em que um presidente pensa não em degolar inocentes, mas em degolar possíveis sucessores, inocentes ou não.
Fala-se na reeleição do atual presidente. Armam-se esquemas táticos,
de marketing e de finanças, para garantir mais um mandato para Lula.
Governadores de dois Estados, Alckmin e Aécio, de São Paulo e de Minas
respectivamente, com certa boa vontade poderiam ser considerados jovens, mas já estão crescidinhos e não
chegam a ser inocentes de todo. Para
chegarem lá, devem ter feito das suas.
Por sua vez, apesar de sua origem
humilde, Lula tem agora alguma coisa de rei e de mago. Mais para mago
do que para rei, porque está sempre
prometendo um grande espetáculo
que vai requerer, além de magia, bastante mandinga.
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