São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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MARCELO BERABA

O PT e o PRI

RIO DE JANEIRO - É curioso que dois políticos oposicionistas de expressão nacional -o senador Jefferson Pérez, do PDT, e o prefeito do Rio, Cesar Maia, do PFL- tenham comparado a trajetória recente do PT no governo federal ao domínio absolutista que o Partido Revolucionário Institucional, o PRI, exerceu no México durante mais de 70 anos ao longo do século 20.
Os motes comparativos são distintos, mas o objetivo é o mesmo: associar o PT a um modelo autoritário e a uma experiência duradoura e danosa de apropriação do poder.
Pérez destacou, em artigo ontem na Folha, entre as características do modelo mexicano, "o aparelhamento da estrutura do Estado, o controle das máquinas sindicais e o anestesiamento dos meios de comunicação". É claro que o PT não dispõe de tal domínio, por isso Pérez considera que apenas assistimos ao início do processo de "mexicanização", impulsionado pela disciplina interna do PT, por seu apetite e pela fragilidade da oposição e dos meios de comunicação.
A comparação de Cesar Maia tem mais a ver com a aparente esquizofrenia do PT quando se coteja suas políticas conservadoras internas com a tentativa de forjar uma política externa à esquerda. "O PRI fazia, para dentro [do país], uma política econômica para a direita; para fora, uma política de esquerda, permanentemente entrosada com Cuba. E utilizava a máquina partidária como máquina estatal. Essas são as três características dos governos do PRI e que perigosamente o PT redivive."
Todos os partidos -inclusive o PFL de Maia e ACM e o PDT de Pérez e Brizola- são incoerentes e todos pretendem se perpetuar no poder se tiverem chance. Assim também é o PT. Resta saber se conseguirá domesticar o mundo político e entorpecer as forças sociais durante muito tempo. Sérgio Motta, o Serjão, também sonhava que o PSDB ocuparia o Planalto durante pelo menos 20 anos. Durou oito.


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