São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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GUERRAS NO PARAGUAI

Quase toda a América Latina passou a viver, na última década, uma situação de auspiciosa anormalidade em sua história: abandonou por ora a tradição de regimes ditatoriais e militares, com a exceção de Cuba, com Fidel Castro, e do caso exótico de Alberto Fujimori e sua democracia autoritária no Peru.
Não obstante, o apego à tradição autoritária persiste. O Paraguai é hoje um exemplo de país em que a boca torta pelo cachimbo da violência política ainda dita o comportamento de homens públicos. A nação vizinha tem vivido sob a ameaça de golpes. O caso mais explícito foi o do general Lino Oviedo, que tentou derrubar o presidente Juan Carlos Wasmosy em 1996. Mas os problemas não pararam por aí. Ainda corre risco a democracia em um sócio do Mercosul, um país que merece particular atenção do Brasil devido a questões econômicas e a problemas compartilhados de segurança e polícia na fronteira.
A política paraguaia é extremamente confusa -ainda mais que a brasileira. O general Oviedo, o golpista, é o candidato presidencial do Partido Colorado, há cinco décadas no poder, a mesma legenda de Wasmosy e do ex-ditador Stroessner. Em 1997, Oviedo derrotou nas prévias presidenciais Luís Argaña, ex-assessor direto de Stroessner. Argaña, por sua vez, tentou por duas vezes instaurar processos para derrubar Wasmosy. O presidente, por fim, foi acusado de tentar influenciar o resultado das prévias recorrendo ao Exército. Seu candidato chegou em terceiro lugar, e agora Wasmosy procura colocar Oviedo na cadeia. Ressalte-se ainda: são todos do mesmo partido.
Uma guerra jurídica e ameaças de motim, de lado a lado, têm sido a tônica da luta pela poder. A eleição presidencial está marcada para maio de 1998. Os países do Mercosul, que fizeram um pacto pela democracia, intervieram diplomaticamente por ocasião da ameaça de golpe em 1996, dando uma demonstração de que a ruptura institucional, em si já mais do que condenável, seria também uma ruptura com a união econômica do Cone Sul. Espera-se que os ânimos no país vizinho sejam serenados e que a democracia prevaleça.



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