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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A Bolsa e a vida

SÃO PAULO - Érica Fraga, repórter desta Folha com uma notável capacidade para escrever sobre economia de forma que os mortais comuns possamos entender, enveredou ontem pela Argentina.
Mostrou, entre outras coisas, que "a Bolsa de Buenos Aires é a que mais subiu em dólares no mundo no ano e nos últimos 12 meses".
Não, não quer dizer que a crise tenha acabado, que a moratória (decretada há mais de ano) tenha resolvido todos os problemas etc. O ponto não é esse.
Mas seria desinformação ou má-fé atribuir a crise argentina à moratória. Ao contrário, a moratória é que foi consequência da crise.
Ao ser decretada, por absoluta impossibilidade de pagamento, a moratória transformou-se em parte da solução, não em parte do problema, ao contrário do que apregoa o ensurdecedor coro neoliberal que ainda assola o planeta.
A crise argentina foi causada primeiro pelo câmbio fixo, ao qual se juntou depois o tal "corralito" (retenção de depósitos e ativos financeiros) mais as sequelas da inevitável desvalorização do peso.
É fácil entender a crise: se o Brasil paga até hoje o preço de ter adotado câmbio semifixo durante quatro anos, imagine o quanto não paga a Argentina, que ficou com o câmbio totalmente fixo durante dez anos.
É claro que moratória, controle de câmbio e outros radicalismos do gênero não devem ser adotados alegremente -por bravata, ideologia ou o que quer que seja. Mas, se outras prioridades estiverem sendo afetadas, também não devem ser excomungados.
Foi o que fez a Argentina depois de ir ao fundo do poço. Começa lentamente a sair dele.
Fica claro, pois, que é tolice da mesma família adotar radicalismos por radicalismo, assim como o seria rejeitá-los por ideologia ou por temor reverencial ao mercado. A Bolsa de Buenos Aires que o diga.


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