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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

E o plano A?

BRASÍLIA - Quando todo o mundo começa a cobrar um plano B do governo Lula, com mais ou com menos desenvoltura, vem o presidente justamente de um partido aliado botar o dedo na ferida. Como é possível falar em plano B quando tudo indica que o que está faltando ainda é o próprio plano A?
Em documento de 14 páginas endereçado aos 21 deputados e três senadores do PPS, o deputado Roberto Freire reclama que o PT passou esses anos todos tão preocupado e ocupado em fazer oposição e em disputar o poder que se esqueceu de um detalhe: produzir um projeto estratégico. Sem esse projeto não há programa executivo de governo.
Freire não disse, mas o mais complicado é que Lula está sob dois focos de pressão cada vez mais cerrados. Um é pragmático, do mercado, para manter tudo como está. O outro é político, difuso e crescente sobretudo no Congresso, ansioso por mudanças já.
Na versão política, causa incômodo, até espanto, um governo de esquerda assumir e repetir exatamente a política econômica recessiva, de superávits altos e juros estratosféricos, que tanto criticou no "malanismo". E o compromisso com o crescimento? E a promessa de empregos?
Na versão pragmática, o risco é exatamente o oposto: é Lula não resistir à pressão política, ao discurso fácil, à cobrança da esquerda e resolver virar a mesa. E a inflação? E os indicadores macroeconômicos? E os investimentos?
Enquanto o cerco aperta e Palocci resiste bravamente, as perguntas vão se multiplicando, extrapolando as fronteiras da oposição (PSDB e PFL) e dos radicais petistas (Heloísa Helena e cia.) e chegando aos aliados (à frente o PDT e agora o PPS de Freire, ambos com ministros bem instalados no governo que criticam). Muito pior: e à Fiesp, aos sindicatos...
Mas a verdade é que os críticos reclamam, mas também não apresentam nenhum plano B. O problema do governo parece outro, de origem. Como diz Roberto Freire, a ausência do próprio plano A. É aí que FHC e Malan entram. E não saem.


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