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ELIANE CANTANHÊDE
E o plano A?
BRASÍLIA - Quando todo o mundo
começa a cobrar um plano B do governo Lula, com mais ou com menos
desenvoltura, vem o presidente justamente de um partido aliado botar o
dedo na ferida. Como é possível falar
em plano B quando tudo indica que
o que está faltando ainda é o próprio
plano A?
Em documento de 14 páginas endereçado aos 21 deputados e três senadores do PPS, o deputado Roberto
Freire reclama que o PT passou esses
anos todos tão preocupado e ocupado em fazer oposição e em disputar o
poder que se esqueceu de um detalhe:
produzir um projeto estratégico. Sem
esse projeto não há programa executivo de governo.
Freire não disse, mas o mais complicado é que Lula está sob dois focos
de pressão cada vez mais cerrados.
Um é pragmático, do mercado, para
manter tudo como está. O outro é político, difuso e crescente sobretudo no
Congresso, ansioso por mudanças já.
Na versão política, causa incômodo, até espanto, um governo de esquerda assumir e repetir exatamente
a política econômica recessiva, de superávits altos e juros estratosféricos,
que tanto criticou no "malanismo". E
o compromisso com o crescimento? E
a promessa de empregos?
Na versão pragmática, o risco é
exatamente o oposto: é Lula não resistir à pressão política, ao discurso
fácil, à cobrança da esquerda e resolver virar a mesa. E a inflação? E os indicadores macroeconômicos? E os investimentos?
Enquanto o cerco aperta e Palocci
resiste bravamente, as perguntas vão
se multiplicando, extrapolando as
fronteiras da oposição (PSDB e PFL)
e dos radicais petistas (Heloísa Helena e cia.) e chegando aos aliados (à
frente o PDT e agora o PPS de Freire,
ambos com ministros bem instalados
no governo que criticam). Muito pior:
e à Fiesp, aos sindicatos...
Mas a verdade é que os críticos reclamam, mas também não apresentam nenhum plano B. O problema do
governo parece outro, de origem. Como diz Roberto Freire, a ausência do
próprio plano A. É aí que FHC e Malan entram. E não saem.
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