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CLÓVIS ROSSI
A farinha cresceu, o saco é o mesmo
SÃO PAULO - Cheguei, por uns
dois segundos, a ficar com imensa
peninha do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) ao ler a defesa que o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro,
fez da eleição de Collor para presidir a Comissão de Infraestrutura do
Senado: "Depois de todos os episódios que ele viveu e sofreu, passando muitos anos sem ter uma posição de destaque, acho que a eleição
chega em boa hora".
Coitadinho, não? Algum desavisado pode até pensar que ficou
"sem uma posição de destaque" por
algum expurgo, perseguição da ditadura (que, aliás, ele apoiou até o
fim) ou algo parecido.
Mas a peninha durou o tempo suficiente para lembrar que José Múcio é do mesmo time de Collor (o
PTB), além de ter o mesmo DNA
político, o velho coronelismo. É até
usineiro, a categoria que foi a principal financiadora das aventuras
de Collor.
Logo em seguida, me lembrei de
que usineiro, agora, é "herói", segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pode até haver heróis
entre eles, não sei. Mas boa parte
não passa de uma das mais reacionárias forças políticas e empresariais, ávida permanentemente pelas benesses do poder.
Mas, se são "heróis" para o chefão, como seu ministro deixaria
passar a ocasião de festejar a eleição
de tão nobre correligionário?
Aí vem o senador Aloizio Mercadante com a "aliança espúria" [com
Renan Calheiros] que teria sido responsável pela eleição de Collor. Ué,
não são ambos, como Mercadante,
da base aliada?
Espúria foi a formação dessa base, nos termos que constam dos autos de processo em andamento no
STF. Mas Mercadante calou-se a
esse respeito. São, portanto, farinha
do mesmo saco, como o PT adorava
chamar os demais partidos antes de
mergulhar -e lambuzar-se- nesse
mesmo saco.
crossi@uol.com.br
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