São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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É cedo para beatificar Fraga

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Armínio Fraga afirmou que não era gênio, mas era "do bem", quando alguém o chamou de "gênio do mal".
Pela queda do dólar nas últimas 48 horas, as primeiras de Fraga oficialmente como comandante do BC, muita gente vai achar que ele, além de ser "do bem", é também um gênio. Pode até ser, mas conviria esperar pelo menos algum tempo antes de passar da fossa à euforia, como é bem brasileiro.
Nem vou recorrer a avaliações de brasileiros, não por algum complexo de inferioridade, mas porque, às vezes, a paixão e os interesses em jogo acabam por distorcer a análise.
Cito, primeiro, a revista britânica "The Economist", edição que foi ontem às bancas. A revista começa dizendo que todas as medidas recentemente tomadas pelo Banco Central (aumento do compulsório e dos juros) podem permitir a esperança de que o Brasil evite o colapso de sua moeda até abril, "quando a receita das exportações deverá aumentar".
Depois, acrescenta:
"O risco é que, antes disso, uma moeda fraca, a inflação e altas taxas de juros se combinem para lançar a economia em um turbilhão".
Passo, em seguida, para o Grupo G-7, uma consultoria norte-americana comandada por ex-altos funcionários da Casa Branca em sucessivas administrações. Seu boletim de ontem termina dizendo o seguinte:
"Fraga pode gerar um muito necessário impulso na confiança, mas há suficientes problemas pendentes para que os mercados permaneçam cautelosos em relação ao Brasil".
As duas fontes lembram, também, que o problema fundamental, no quesito dólar/real, é a escassez de dólares, quando há um punhado de dívidas a vencer e que têm que ser pagas na moeda norte-americana.
Para desatar esse nó, Fraga teria que ser o que diz não ser (um gênio). Do bem ou do mal.


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