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É cedo para beatificar Fraga
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Armínio Fraga afirmou que não
era gênio, mas era "do bem", quando
alguém o chamou de "gênio do mal".
Pela queda do dólar nas últimas 48
horas, as primeiras de Fraga oficialmente como comandante do BC, muita gente vai achar que ele, além de ser
"do bem", é também um gênio. Pode
até ser, mas conviria esperar pelo menos algum tempo antes de passar da
fossa à euforia, como é bem brasileiro.
Nem vou recorrer a avaliações de
brasileiros, não por algum complexo
de inferioridade, mas porque, às vezes,
a paixão e os interesses em jogo acabam por distorcer a análise.
Cito, primeiro, a revista britânica
"The Economist", edição que foi ontem às bancas. A revista começa dizendo que todas as medidas recentemente tomadas pelo Banco Central
(aumento do compulsório e dos juros)
podem permitir a esperança de que o
Brasil evite o colapso de sua moeda
até abril, "quando a receita das exportações deverá aumentar".
Depois, acrescenta:
"O risco é que, antes disso, uma moeda fraca, a inflação e altas taxas de
juros se combinem para lançar a economia em um turbilhão".
Passo, em seguida, para o Grupo
G-7, uma consultoria norte-americana comandada por ex-altos funcionários da Casa Branca em sucessivas administrações. Seu boletim de ontem
termina dizendo o seguinte:
"Fraga pode gerar um muito necessário impulso na confiança, mas há
suficientes problemas pendentes para
que os mercados permaneçam cautelosos em relação ao Brasil".
As duas fontes lembram, também,
que o problema fundamental, no quesito dólar/real, é a escassez de dólares,
quando há um punhado de dívidas a
vencer e que têm que ser pagas na
moeda norte-americana.
Para desatar esse nó, Fraga teria que
ser o que diz não ser (um gênio). Do
bem ou do mal.
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