São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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OUTRA FRENTE

As tropas de ocupação do Iraque, que já vinham enfrentando problemas para controlar o movimento de resistência conduzido por muçulmanos sunitas, têm agora de lidar também com a revolta de um grupo radical xiita. O novo "front" constitui um cenário pouco alentador para o presidente George W. Bush, que tenta a reeleição.
O combate à resistência sunita já atravessava um momento delicado depois que quatro norte-americanos que faziam segurança privada foram mortos, queimados e esquartejados por uma multidão na cidade de Fallujah, na semana passada. Os EUA, adotando os mesmos métodos de Israel contra os palestinos, prometeram vingar a chacina, cujas horrendas imagens foram televisionadas para todo o mundo.
Acrescente-se a isso a revolta xiita, deflagrada por uma imprudente ação dos próprios americanos, e o resultado é uma importante deterioração da situação de segurança no Iraque. Os xiitas, que perfazem cerca de 60% da população iraquiana, vêm em sua maioria mantendo relações pouco turbulentas com os EUA. Apesar de diferenças políticas e de protestos localizados, os principais líderes xiitas aprovaram a deposição de Saddam Hussein, um sunita que os perseguia implacavelmente.
O quadro pode estar mudando depois que a administração americana ordenou o fechamento de um jornal ligado ao grupo do aiatolá Muqtada al Sadr, que lidera uma minoria fanática. A atitude, cuja eficácia nunca foi evidente, disparou várias manifestações que logo descambaram para batalhas campais. Pelo menos 50 iraquianos e nove soldados da coalizão morreram no fim de semana.
Bush tem a seu favor o fato de o Iraque não ser um tema que mobilize o eleitor norte-americano, que está mais preocupado com a economia e o desemprego. É claro, porém, que um ambiente de convulsão no Iraque poderá ser usado contra ele.


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