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CLÓVIS ROSSI
Democracia à bomba
BRUXELAS - O "Mena Info", um serviço de informação sobre Oriente
Médio e norte da África (Mena é a sigla em inglês para "Middle East and
North Africa"), titula um de seus boletins de ontem sobre a crise no Iraque da seguinte forma: "Bombing the
arabs into democracy". Em tradução
livre, seria algo "bombardeando os
árabes rumo à democracia".
É um achado: apesar da crise, o informativo consegue ironizar a maneira (a fogo) como os Estados Unidos pretendem, supostamente, conduzir o mundo árabe à democracia
(um dos pretensos objetivos para invadir o Iraque, lembra-se?).
O que causa indignação nessa história toda é que um governo, o de
George Walker Bush, que conseguiu
fazer tudo errado, do princípio ao
fim, ainda é poupado internamente.
Primeiro, mentiu sobre a existência
das tais armas de destruição em massa, que era o principal argumento para justificar o ataque.
Mentiu de novo ao apontar o Iraque de Saddam Hussein como foco
do terrorismo internacional. Saddam
era um ditador desprezível, mas não
se conseguiu provar nenhum vínculo
com o terrorismo.
Depois, Washington desprezou as
Nações Unidas, única instituição que
poderia dar legalidade e legitimidade
à invasão do Iraque.
Por fim, conseguiu atrair a ira da
comunidade religiosa, os xiitas iraquianos, que havia sido discriminada e perseguida pelo ditador. A coleção de equívocos e mentiras conseguiu a proeza de pôr contra os EUA
até o filho de um aiatolá vítima de
Saddam Hussein.
O terrorismo que se pretendia combater primeiro com a invasão do Afeganistão e, depois, com a deposição
de Saddam continua vigoroso e semeia sangue e pânico em diferentes
países. O Iraque que se pretendia "civilizar" dá, dia a dia, demonstrações
de selvageria e contra-selvageria.
É raro encontrar, concentrada em
tão pouco tempo, uma tão formidável coleção de erros cometidos por um
único líder. O incrível é que o mundo
corre o risco de que ele obtenha um
segundo mandato.
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