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ELIANE CANTANHÊDE
Entre a cruz e a espada
BRASÍLIA - Ao anunciar um aumento acima da inflação para 600 mil
funcionários civis, o governo Lula
agradou a parte dos civis e desagradou a todo o resto, até aos militares.
Na onda do 31 de março e das manifestações (que são livres nas democracias, certo?), o pessoal da reserva
se uniu às famílias do pessoal da ativa para um protesto na praça dos
Três Poderes, em frente ao Planalto.
A reação dos comandos militares
foi de condescendência, tanto com
atos evocando os mortos da direita
no regime militar quanto com o de
domingo, pedindo reajustes.
Em entrevista à Folha, publicada
no próprio domingo, o comandante
do Exército, Francisco Albuquerque,
deixou claro que, se a esquerda pode
fazer manifestação pelo 31 de março,
por que a direita não poderia? E defendeu todo o tempo algo bem mais
atual: o aumento dos soldos. Segundo
ele, a baixa remuneração proletariza
o Exército, prejudica as famílias e gera manifestações. Disse ter "certeza"
de que o aumento sai.
O comandante da Aeronáutica,
Luiz Carlos Silva Bueno, foi na mesma linha: em nota, disse ontem que a
defasagem salarial faz "florescer a insatisfação social nos quadros das
Forças Armadas". Só falta a manifestação do comando da Marinha.
E já está nas mãos do ministro da
Defesa, José Viegas, um pedido conjunto de Exército, Marinha e Aeronáutica contendo três possibilidades
de reajuste de até 35%.
Segundo o general Albuquerque,
um agente da Polícia Federal, desses
que andam parando os aeroportos
em greve, ganha como um tenente-coronel com 20 anos de carreira e pelo menos dois cursos, equivalentes a
diploma superior e mestrado.
Agentes da PF fazem greve, e soldados, praças e oficiais, não; mas havia
em torno de 700 pessoas na manifestação de domingo. Algum empurrãozinho encorajador elas tiveram.
Eis o dilema do governo: com tanta
falta de dinheiro, não dá para sair
dando aumentos; mas, com tantos
problemas, convém não alimentar
mais um. Ainda mais esse, que se conhece tão bem e por tanto tempo.
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