São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Entre a cruz e a espada

BRASÍLIA - Ao anunciar um aumento acima da inflação para 600 mil funcionários civis, o governo Lula agradou a parte dos civis e desagradou a todo o resto, até aos militares.
Na onda do 31 de março e das manifestações (que são livres nas democracias, certo?), o pessoal da reserva se uniu às famílias do pessoal da ativa para um protesto na praça dos Três Poderes, em frente ao Planalto.
A reação dos comandos militares foi de condescendência, tanto com atos evocando os mortos da direita no regime militar quanto com o de domingo, pedindo reajustes.
Em entrevista à Folha, publicada no próprio domingo, o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, deixou claro que, se a esquerda pode fazer manifestação pelo 31 de março, por que a direita não poderia? E defendeu todo o tempo algo bem mais atual: o aumento dos soldos. Segundo ele, a baixa remuneração proletariza o Exército, prejudica as famílias e gera manifestações. Disse ter "certeza" de que o aumento sai.
O comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Silva Bueno, foi na mesma linha: em nota, disse ontem que a defasagem salarial faz "florescer a insatisfação social nos quadros das Forças Armadas". Só falta a manifestação do comando da Marinha.
E já está nas mãos do ministro da Defesa, José Viegas, um pedido conjunto de Exército, Marinha e Aeronáutica contendo três possibilidades de reajuste de até 35%.
Segundo o general Albuquerque, um agente da Polícia Federal, desses que andam parando os aeroportos em greve, ganha como um tenente-coronel com 20 anos de carreira e pelo menos dois cursos, equivalentes a diploma superior e mestrado.
Agentes da PF fazem greve, e soldados, praças e oficiais, não; mas havia em torno de 700 pessoas na manifestação de domingo. Algum empurrãozinho encorajador elas tiveram.
Eis o dilema do governo: com tanta falta de dinheiro, não dá para sair dando aumentos; mas, com tantos problemas, convém não alimentar mais um. Ainda mais esse, que se conhece tão bem e por tanto tempo.


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