São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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POLÍTICAS MICRO

Depois de praticamente oito anos de políticas econômicas pautadas quase exclusivamente por metas macroeconômicas, centradas na estabilidade de preços e da taxa de câmbio, ganha corpo o debate sobre políticas microeconômicas, voltadas à promoção de setores específicos.
O vigor das propostas intervencionistas não é casual. Em tempos de campanha eleitoral, as equipes dos candidatos retomam a agenda sobre o papel do Estado na economia.
Até o ministro Pedro Malan, tradicional adversário dos que defenderam políticas setoriais no governo, como o ex-ministro Alcides Tápias ou o agora candidato José Serra, já admite políticas industriais.
Há vários modos de formular receitas de política industrial. Para os economistas Ana Claudia Alem e Fabio Giambiagi, do BNDES, e José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, trata-se de criar instrumentos que promovam o "crescimento das exportações e a substituição competitiva de importações".
A tese está em trabalho a ser apresentado no 14º Fórum Nacional promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), entidade dirigida pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, outro veterano desenvolvimentista.
Economistas do PT também defendem políticas setoriais em favor da indústria. O mesmo fazem entidades patronais, como o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e a Fiesp.
Mesmo políticos do PFL, supostamente avessos à intervenção estatal, na prática defendem políticas setoriais ou regionalistas que vão da guerra fiscal à utilização de bancos estatais para promover a agricultura.
Diante desse consenso pragmático em favor da ação do Estado, o que falta ao debate é a identificação mais clara de que setores, no contexto de qual modelo de desenvolvimento, o Estado deve beneficiar.
Sem esse esclarecimento, tudo se resume ao jogo dos lobbies que se articulam por trás da cortina de fumaça das boas intenções dos candidatos.


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