|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL POLÍTICO
A realização de um jogo de
futebol reunindo as seleções do
Brasil e do Haiti surge, à primeira vista, como um gesto simpático do governo brasileiro, que enviou tropas
para comandar uma missão da ONU
naquele país. Os haitianos encontram-se entre os numerosos admiradores do futebol brasileiro e terão a
oportunidade de, pela primeira vez,
recepcionar a equipe nacional.
Há, no entanto, alguns aspectos a
considerar. Além dos riscos -esperemos que contornáveis- de tumultos devido às precárias condições do
estádio e da segurança local, o episódio traz novamente à cena o debate
sobre a instrumentalização do esporte por interesses políticos, algo que o
Brasil, em tempos de autoritarismo,
conheceu muito bem. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva estará presente à partida, que lhe servirá, se tudo correr bem, como mais um evento internacional de marketing.
Para que a idéia fosse levada a cabo,
o Planalto contou com o solícito
apoio da Confederação Brasileira de
Futebol, numa conjunção de interesses que se pode mostrar danosa ao
processo de moralização e saneamento do futebol brasileiro. Os clubes de futebol filiados à CBF devem
ao fisco algo em torno de R$ 400 milhões. Muitos continuam inadimplentes sem que o governo tome as
medidas cabíveis. Além disso, a CBF,
alvo de CPIs que reuniram uma série
de indícios de irregularidades, comanda um esporte cujos dirigentes
descumprem acintosamente a nova
legislação esportiva - justamente o
primeiro conjunto de leis sancionado, em 2003, pelo presidente Lula.
Para tornar o quadro mais lastimável, o ministro do Esporte, Agnelo
Queiroz, tem sido um exemplo de
inapetência quando se trata de zelar
pelas normas vigentes e enfrentar as
forças que dificultam a mudança da
gestão do futebol, na qual a incúria
administrativa não raro se entrelaça
com a imoralidade e a corrupção.
Será deplorável se essa partida, como sugerem alguns fatos, selar uma
aliança entre a CBF e o petismo, do
qual se esperava, também no esporte, um pouco mais de coerência com
as manifestações moralizadoras dos
tempos de oposição.
Texto Anterior: Editoriais: EXPANSÃO E INCERTEZAS Próximo Texto: Editoriais: PERDEM OS DEFICIENTES Índice
|