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CLÓVIS ROSSI
Tão rindo de quê?
SÃO PAULO - As fotos da capa desta Folha eram ontem um retrato acabado do autismo que caracteriza o mundo político brasileiro.
No alto, deputados governistas festejavam a aprovação da reforma tributária. Abaixo, foto mostrava que
"cerca de 15 mil pessoas, quase um
terço da população desempregada de
Ribeirão Preto, enfrentaram fila de
até cinco horas para se candidatar a
uma das 400 vagas abertas na cidade
por uma rede de hipermercado".
O que tem uma foto a ver com a outra? Nada. É exatamente esse o problema: o mundo político governista
festeja algo (a reforma tributária)
que não representa nada no sentido
de estimular a atividade econômica
e, por extensão, a redução do desemprego.
A festa é apenas o retrato de uma
das muitas patologias da política brasileira: os representantes não falam a
língua dos representados. O governismo, neste como em anteriores governos, passou a ser uma espécie de irmandade, um clube aberto a adesões
de qualquer aventureiro ou oportunista que gira em torno de seus próprios interesses.
Não se festeja, nesta como em outras reformas ou votações, a vitória
da sociedade, mas a vitória do governo, um fim em si mesmo. Só o mais cínico dos governistas será capaz de dizer que a reforma tributária, nos termos aprovados, facilita a atividade
econômica.
No pior dos casos, aumenta a carga
tributária. No melhor, é anódina.
No entanto houve festa. Lembrou,
para os já antigos, os festejos do "Centrão", o bloco conservador criado na
Assembléia Constituinte.
Enquanto isso, o presidente da República continua a repetir a tola metáfora da maternidade, os áulicos de
plantão continuam rindo, como se se
tratasse de um achado digno de prêmio Nobel, e os governistas continuam festejando.
Já os desempregados, na fila ficaram e na fila continuarão.
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