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VALDO CRUZ
Da arrogância à humildade
BRASÍLIA - Na terça-feira, pressentindo que o governo Lula estava prestes a acionar o rolo compressor, o governador Aécio Neves (MG) disse a
um assessor: "Eles vão tentar uma
manobra que é melhor ficar fora".
Em seguida, foi de Brasília para BH.
Pouco depois, um grupo de governadores ouvia, no Planalto, um sonoro "não" dos ministros José Dirceu e
Antonio Palocci às reivindicações dos
Estados. Estava, de fato, acionado o
rolo compressor petista.
Daquela noite de terça até as 18h de
quarta-feira, o que se viu em Brasília
foi um governo e sua tropa num estilo
arrogante, garantindo que aprovariam a reforma tributária sem a oposição e os governadores.
Só que o motor do rolo compressor
começou a falhar a partir dali. Os governadores foram a campo e começaram a virar votos de suas bancadas
estaduais, inclusive de deputados governistas. Era votar contra ou a favor
de seus Estados.
Percebendo que não tinham os votos que imaginavam ter, Dirceu e Palocci passaram a disparar telefonemas para os Estados. Para Aécio, foram mais de dez. Vários deles diretos
do gabinete do presidente Lula. Dois
deles do próprio presidente.
O governador mineiro, do seu gabinete, comentava com um assessor:
"Estava preparado para fazer o discurso de perdedor, mas eles esqueceram que nessas matérias o deputado
fica com seu Estado".
No final, Dirceu pedia que Aécio
garantisse pelo menos 20 votos. Deu
cerca de 40 e saiu no lucro. Calcula
ter obtido cerca de R$ 700 milhões
por ano para o Estado.
Ontem, um dia depois da batalha,
Aécio falou novamente com José Dirceu. Quem ouviu o relato do telefonema tirou a seguinte conclusão: foi
uma conversa de vencedores, não de
perdedores. O clima de irritação do
Planalto com o governador mineiro
havia se dissipado.
A lição tirada do episódio é que é
preciso ter humildade para recuar na
hora certa. Foi o que se viu. A paz voltou. Mas novas batalhas virão.
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