UOL




São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VALDO CRUZ

Da arrogância à humildade

BRASÍLIA - Na terça-feira, pressentindo que o governo Lula estava prestes a acionar o rolo compressor, o governador Aécio Neves (MG) disse a um assessor: "Eles vão tentar uma manobra que é melhor ficar fora". Em seguida, foi de Brasília para BH.
Pouco depois, um grupo de governadores ouvia, no Planalto, um sonoro "não" dos ministros José Dirceu e Antonio Palocci às reivindicações dos Estados. Estava, de fato, acionado o rolo compressor petista.
Daquela noite de terça até as 18h de quarta-feira, o que se viu em Brasília foi um governo e sua tropa num estilo arrogante, garantindo que aprovariam a reforma tributária sem a oposição e os governadores.
Só que o motor do rolo compressor começou a falhar a partir dali. Os governadores foram a campo e começaram a virar votos de suas bancadas estaduais, inclusive de deputados governistas. Era votar contra ou a favor de seus Estados.
Percebendo que não tinham os votos que imaginavam ter, Dirceu e Palocci passaram a disparar telefonemas para os Estados. Para Aécio, foram mais de dez. Vários deles diretos do gabinete do presidente Lula. Dois deles do próprio presidente.
O governador mineiro, do seu gabinete, comentava com um assessor: "Estava preparado para fazer o discurso de perdedor, mas eles esqueceram que nessas matérias o deputado fica com seu Estado".
No final, Dirceu pedia que Aécio garantisse pelo menos 20 votos. Deu cerca de 40 e saiu no lucro. Calcula ter obtido cerca de R$ 700 milhões por ano para o Estado.
Ontem, um dia depois da batalha, Aécio falou novamente com José Dirceu. Quem ouviu o relato do telefonema tirou a seguinte conclusão: foi uma conversa de vencedores, não de perdedores. O clima de irritação do Planalto com o governador mineiro havia se dissipado.
A lição tirada do episódio é que é preciso ter humildade para recuar na hora certa. Foi o que se viu. A paz voltou. Mas novas batalhas virão.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Tão rindo de quê?
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O parto e o aborto
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.