São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Editoriais

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Ciência viva

O ANÚNCIO da primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias humanas confirma o acerto de investir na inovação tecnocientífica. Mas o Brasil não vai ainda "competir com os países desenvolvidos" nessa matéria, como quer o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, só porque pesquisadores da USP conseguiram obter a linhagem BR-1.
Trata-se de um feito, não cabe diminuí-lo. Nem inflá-lo. Laboratórios dos EUA obtiveram tais células uma década atrás.
Desenvolver sobre essa base tecnologias terapêuticas para doenças crônicas, como o diabetes, implica um caminho longo e acidentado. Células-tronco embrionárias têm capacidade de transformar-se em qualquer tecido do corpo, daí o interesse para estudo de tratamentos inovadores. Antes, porém, é preciso descobrir como controlá-las, pois elas também possuem potencial para formar tumores.
O grupo de Lygia da Veiga Pereira, na USP, com a colaboração da UFRJ, tinha o objetivo de criar uma ferramenta de pesquisa e distribuí-la na comunidade científica nacional. Os pesquisadores persistiram na investigação mesmo com a insegurança jurídica dos três anos em que a pesquisa com embriões permaneceu "sub judice" no Supremo Tribunal Federal, até a liberação em 29 de maio passado.
O financiamento oportuno foi um fator decisivo para a façanha. O projeto da USP foi um dos 45 selecionados por edital do CNPq de 2005, no valor de R$ 10,5 milhões. Só seis propostas contemplavam células embrionárias, das quais uma teve sucesso, e mesmo assim depois de dois anos e 50 tentativas.
A linhagem BR-1 será agora a semente de uma rede de pesquisa em terapias celulares. CNPq, Ministério da Saúde e BNDES prometem irrigá-la com R$ 21 milhões entre 2008 e 2009.
A comunidade de pesquisa brasileira, nesse campo, é restrita mas capaz. Com a dose certa de colaboração e competição entre grupos, apoiada com financiamento garantido, poderá trilhar um caminho autônomo numa das áreas promissoras da biomedicina do século 21.


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