|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Ciência viva
O ANÚNCIO da primeira linhagem brasileira de células-tronco embrionárias humanas confirma o acerto
de investir na inovação tecnocientífica. Mas o Brasil não vai
ainda "competir com os países
desenvolvidos" nessa matéria,
como quer o ministro da Saúde,
José Gomes Temporão, só porque pesquisadores da USP conseguiram obter a linhagem BR-1.
Trata-se de um feito, não cabe
diminuí-lo. Nem inflá-lo. Laboratórios dos EUA obtiveram tais
células uma década atrás.
Desenvolver sobre essa base
tecnologias terapêuticas para
doenças crônicas, como o diabetes, implica um caminho longo e
acidentado. Células-tronco embrionárias têm capacidade de
transformar-se em qualquer tecido do corpo, daí o interesse para estudo de tratamentos inovadores. Antes, porém, é preciso
descobrir como controlá-las,
pois elas também possuem potencial para formar tumores.
O grupo de Lygia da Veiga Pereira, na USP, com a colaboração
da UFRJ, tinha o objetivo de
criar uma ferramenta de pesquisa e distribuí-la na comunidade
científica nacional. Os pesquisadores persistiram na investigação mesmo com a insegurança
jurídica dos três anos em que a
pesquisa com embriões permaneceu "sub judice" no Supremo
Tribunal Federal, até a liberação
em 29 de maio passado.
O financiamento oportuno foi
um fator decisivo para a façanha.
O projeto da USP foi um dos 45
selecionados por edital do CNPq
de 2005, no valor de R$ 10,5 milhões. Só seis propostas contemplavam células embrionárias,
das quais uma teve sucesso, e
mesmo assim depois de dois
anos e 50 tentativas.
A linhagem BR-1 será agora a
semente de uma rede de pesquisa em terapias celulares. CNPq,
Ministério da Saúde e BNDES
prometem irrigá-la com R$ 21
milhões entre 2008 e 2009.
A comunidade de pesquisa
brasileira, nesse campo, é restrita mas capaz. Com a dose certa
de colaboração e competição entre grupos, apoiada com financiamento garantido, poderá trilhar um caminho autônomo numa das áreas promissoras da biomedicina do século 21.
Texto Anterior: Editoriais: Choque de gestões Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: São Paulo, 2010 Índice
|