São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A síndrome do medo CARLOS DE MEIRA MATTOS
Os terroristas islâmicos estão
explorando diabolicamente os
efeitos do medo para assustar aqueles
que elegeram como seus inimigos.
Não relacionados diretamente à rede Al Qaeda, mas inseridos no mesmo contexto psicológico de submissão pelo terror, tivemos o audacioso sequestro de 700 expectadores de teatro em Moscou, praticado por cerca de 40 guerrilheiros tchetchenos, terminado em horrível mortandade, e temos a infindável e crudelíssima guerra dos palestinos contra Israel. Essa série de agressões terroristas está provocando, nos países mais visados, o que chamaríamos de "síndrome do medo". Seus efeitos são, além do clima coletivo de tensão, inusitados prejuízos financeiros e econômicos. Basta lembrar os grandes prejuízos causados pelo ataque de 11 de setembro do ano passado, que perduram até hoje, provocados pelo medo de viajar, atingindo brutalmente os setores de turismo, empresas de aviação e outros. Tomando, por exemplo, apenas a recente explosão de bombas em Bali, os prejuízos causados pelo medo são impressionantes. Essa ilha recebeu, no ano passado, cerca de 1,5 milhão de turistas estrangeiros. Isso representou 9% da renda anual da Indonésia. Para sustentar esse movimento turístico, a cidade possui extensa rede de hotéis, restaurantes, bancos e casas de diversão. Uma semana após os atentados, todas as reservas nos hotéis haviam sido canceladas, todos os aviões chegaram vazios e regressaram cheios. O fantasma da falência e do desemprego ameaça centenas de milhares de pessoas ligadas à indústria do turismo. Aquela que foi "a ilha dos deuses" está afundando numa catástrofe econômica. A humanidade não pode ficar submetida às táticas diabólicas de pequenos grupos de insanos terroristas, sejam eles de que índole forem. A guerra total ao terrorismo, anunciada pelo presidente Bush no ano passado, continua patinando no terreno dos resultados duvidosos. Chegou a hora de os governos responsáveis pelo bem estar de seus povos se unirem, pondo de lado antagonismos e rivalidades, criando uma estratégia de defesa conjunta, que assegure a tranquilidade dos que desejam viver sem medo. Terminamos lembrando as palavras do pensador romano Horacio, nas suas "Epístolas": "Quem vive sob o domínio do medo nunca será livre". Carlos de Meira Mattos, 89, general reformado do Exército e veterano da Segunda Guerra Mundial, é doutor em ciência política e conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Paulo Renato Souza: O crescimento da produção científica Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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