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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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RECUO PROVIDENCIAL

O presidente norte-americano, George W. Bush, anunciou na quinta-feira a suspensão das tarifas extras que havia imposto à importação de aço. A decisão de proteger os produtores locais havia sido tomada em março do ano passado, e deveria valer por três anos, embora o presidente tivesse aberto a possibilidade de uma reavaliação no segundo semestre de 2004. A queda da salvaguarda foi precipitada por determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que a considerou ilegal, autorizando países exportadores, entre os quais figura o Brasil, a retaliar comercialmente os EUA.
Para dourar a pílula, Bush sugeriu que os ajustes requeridos pelos produtores norte-americanos já teriam ocorrido, o que permitiria retornar ao estágio anterior. Segundo o jornal "The New York Times", embora o setor tenha de fato promovido demissões e melhorado sua eficiência, executivos da área não consideram que a situação foi substancialmente modificada. Sindicalistas manifestaram-se duramente contra a decisão. Havia um forte lobby para que a proteção fosse mantida até 2005.
Além dos constrangimentos externos, essa rara reviravolta de uma administração pouco inclinada a ceder a pressões foi auxiliada também por alguns fatores internos. A indústria consumidora de aço mostrava-se insatisfeita com os custos extras a que foi submetida -com reflexos disseminados pela economia. Além disso, o recente reaquecimento da atividade econômica nos EUA propiciou um ambiente mais confortável para o recuo do governo.
Não obstante, o presidente Bush enfrentará problemas em Estados produtores, alguns importantes para a sua reeleição, como Ohio, Virgínia Ocidental e Pensilvânia. Esse incômodo, no entanto, poderá ser eventualmente minimizado com outras medidas que compensem as empresas atingidas. Para o comércio e as relações internacionais, a decisão foi providencial: não ceder significaria agravar a percepção de que Bush não acata as regras globais e insistir numa linha de intransigência que tem azedado o relacionamento dos EUA até mesmo com antigos aliados.


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