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CLÓVIS ROSSI
Democratas seletivos (e cínicos)
SÃO PAULO - Se dependesse de mim, presidente da República só viajaria a
países plenamente democráticos.
Se razões de Estado o obrigassem a
não ser tão rígido, que pelo menos
mencionasse sempre, nas viagens,
preceitos básicos da vida civilizada
(liberdades públicas, direitos humanos, um não rotundo ao terrorismo,
qualquer terrorismo).
Mas essas regras deveriam valer
"urbi et orbi". Não vale lamentar visitas a países não-democráticos apenas quando eu não gosto desse ou daquele ditador. Também não vale calar os preceitos básicos em países que
os respeitam internamente, mas nem
sempre o fazem na sua ação externa.
Ou, trazendo as coisas para o concreto e para o hoje: não é sério fazer
muxoxos porque Luiz Inácio Lula da
Silva vai à Síria e à Líbia, duas das
ditaduras mais notórias do planeta,
mas não dar a mínima quando Donald Rumsfeld, secretário de Defesa
dos EUA, visita os "senhores da guerra" do Afeganistão.
Ou alguém aí acredita, honestamente, que os caciques afegãos são
zen-budistas?
Também não é sério ignorar que o
governo norte-americano, como provam agora documentos dos próprios
arquivos dos EUA, apoiou e até
apressou o genocídio praticado pela
ditadura argentina do período 1976/
1983. Que diferença real há entre os
crimes atribuídos a Bashar al Assad,
da Síria, inimigo dos EUA, e as juntas
militares argentinas daquele período, apoiadas até na matança pelos
Estados Unidos?
Se se disser, com todas as letras, que
um e as outras são abomináveis e,
portanto, apoiar um ou as outras é
igualmente abominável, contem comigo. Se é para mostrar indignação
seletiva, se é para defender direitos
humanos para uns, mas não para
outros, é cinismo demais mesmo para o mundo moderno.
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