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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Democratas seletivos (e cínicos)

SÃO PAULO - Se dependesse de mim, presidente da República só viajaria a países plenamente democráticos.
Se razões de Estado o obrigassem a não ser tão rígido, que pelo menos mencionasse sempre, nas viagens, preceitos básicos da vida civilizada (liberdades públicas, direitos humanos, um não rotundo ao terrorismo, qualquer terrorismo).
Mas essas regras deveriam valer "urbi et orbi". Não vale lamentar visitas a países não-democráticos apenas quando eu não gosto desse ou daquele ditador. Também não vale calar os preceitos básicos em países que os respeitam internamente, mas nem sempre o fazem na sua ação externa.
Ou, trazendo as coisas para o concreto e para o hoje: não é sério fazer muxoxos porque Luiz Inácio Lula da Silva vai à Síria e à Líbia, duas das ditaduras mais notórias do planeta, mas não dar a mínima quando Donald Rumsfeld, secretário de Defesa dos EUA, visita os "senhores da guerra" do Afeganistão.
Ou alguém aí acredita, honestamente, que os caciques afegãos são zen-budistas?
Também não é sério ignorar que o governo norte-americano, como provam agora documentos dos próprios arquivos dos EUA, apoiou e até apressou o genocídio praticado pela ditadura argentina do período 1976/ 1983. Que diferença real há entre os crimes atribuídos a Bashar al Assad, da Síria, inimigo dos EUA, e as juntas militares argentinas daquele período, apoiadas até na matança pelos Estados Unidos?
Se se disser, com todas as letras, que um e as outras são abomináveis e, portanto, apoiar um ou as outras é igualmente abominável, contem comigo. Se é para mostrar indignação seletiva, se é para defender direitos humanos para uns, mas não para outros, é cinismo demais mesmo para o mundo moderno.


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