UOL




São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Lula, atos e palavras

BEIRUTE - A ênfase do discurso de Lula nos países árabes para assuntos que agradam aos ouvidos locais ainda dará pano para manga. Para Celso Amorim, não há novidade. É só uma repetição exata do que tem sido dito há anos pelos diplomatas brasileiros nos foros apropriados.
Ainda assim, é possível discutir horas a conveniência de dar apoio explícito a um país no plano internacional -ainda que a causa seja justa- quando o governante local não permite haver liberdade de expressão dentro da sua casa.
É o caso da Síria. O que mais chama a atenção de um visitante estrangeiro é o número infinito de fotografias de Hafez al Assad (já morto) e de seu filho, Bashar al Assad, penduradas ostensivamente em fachadas de prédios do país inteiro. Ai de quem não exibir as fotos.
Jornais de expressão nacional são todos estatais. No evento empresarial do qual Lula participou em Damasco, só havia uma repórter local. O texto publicado parecia ter sido escrito por um diplomata conservador -e quase analfabeto, dado o número de erros de grafia nos nomes dos visitantes brasileiros.
O Brasil com Lula e seu pan-petismo parece ter assumido uma espécie de política comercial de resultados. O que importa é aumentar as exportações para esses países. E nem tchuns se são ditaduras ou não.
Na avaliação de João Herrmann, parlamentar que acompanha o presidente da República neste giro pelos países árabes, o que está em jogo não é ideológico: "Daqui a alguns anos, haverá paz no Oriente Médio. Ganhará quem se posicionar primeiro para as oportunidades que se abrem. Não é uma política de titulação de esquerda. É só uma questão de nova geografia do comércio".
Herrmann é filiado ao PPS, ex-Partido Comunista. É pragmático por natureza. Vá lá. Mas para quem anda por esta região, destruída por séculos de guerra e de ódio, é difícil acreditar no otimismo do deputado. No final, há o risco de ficar só o apoio do Brasil a países ditatoriais.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Democratas seletivos (e cínicos)
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A nova direita
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.