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FERNANDO RODRIGUES
Lula, atos e palavras
BEIRUTE - A ênfase do discurso de Lula nos países árabes para assuntos
que agradam aos ouvidos locais ainda dará pano para manga. Para Celso Amorim, não há novidade. É só
uma repetição exata do que tem sido
dito há anos pelos diplomatas brasileiros nos foros apropriados.
Ainda assim, é possível discutir horas a conveniência de dar apoio explícito a um país no plano internacional -ainda que a causa seja justa- quando o governante local não
permite haver liberdade de expressão
dentro da sua casa.
É o caso da Síria. O que mais chama a atenção de um visitante estrangeiro é o número infinito de fotografias de Hafez al Assad (já morto) e de
seu filho, Bashar al Assad, penduradas ostensivamente em fachadas de
prédios do país inteiro. Ai de quem
não exibir as fotos.
Jornais de expressão nacional são
todos estatais. No evento empresarial
do qual Lula participou em Damasco, só havia uma repórter local. O
texto publicado parecia ter sido escrito por um diplomata conservador
-e quase analfabeto, dado o número de erros de grafia nos nomes dos
visitantes brasileiros.
O Brasil com Lula e seu pan-petismo parece ter assumido uma espécie
de política comercial de resultados. O
que importa é aumentar as exportações para esses países. E nem tchuns
se são ditaduras ou não.
Na avaliação de João Herrmann,
parlamentar que acompanha o presidente da República neste giro pelos
países árabes, o que está em jogo não
é ideológico: "Daqui a alguns anos,
haverá paz no Oriente Médio. Ganhará quem se posicionar primeiro
para as oportunidades que se abrem.
Não é uma política de titulação de esquerda. É só uma questão de nova
geografia do comércio".
Herrmann é filiado ao PPS, ex-Partido Comunista. É pragmático por
natureza. Vá lá. Mas para quem anda por esta região, destruída por séculos de guerra e de ódio, é difícil
acreditar no otimismo do deputado.
No final, há o risco de ficar só o apoio
do Brasil a países ditatoriais.
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