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IGOR GIELOW
Lula e a imprensa
BRASÍLIA - A nota divulgada ontem pelo porta-voz do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, desautorizando
as especulações sobre a reforma ministerial, trai uma preocupante visão
que o mandatário máximo do país
tem sobre os meios de comunicação.
No texto, o porta-voz diz que Lula
"considera, por fim, que tal noticiário
especulativo não ajuda o país, na medida em que pode ter como efeito prejudicar o bom andamento de setores
da administração pública".
O que ajuda o país, presidente? A
resposta pode estar em outra frase
elucidativa, essa proferida por Lula
em seu balanço de final de ano, em
dezembro: "Notícia é aquilo que nós
não queremos que seja publicado, o
resto é publicidade".
Não precisa ser maldoso, nem tucano, nem radical ex-petista para entender que Lula acredita, então, que
a publicidade dos atos de seu governo
é o que beneficia o Brasil.
Lula tem todas as credenciais democráticas que sua trajetória até
aqui o facultou, mas não demonstra
saber lidar com a mídia mais independente. Na nota, o presidente "desautoriza" as especulações. Ora, na
Coréia do Norte, o presidente desautoriza a mídia porque manda nela.
No Brasil, em tese, não deveria.
É sintomático Lula ter em sua equipe um secretário de Imprensa, Ricardo Kotscho, que tem por hábito destratar jornalistas e um assessor especial, Frei Betto, que publicou artigo
em dezembro no qual reclamava não
ser procurado para falar apenas das
coisas "construtivas" do governo.
Jornalista é uma espécie chata e,
muitas vezes, erra. Especulação política vem sendo exercida desde sempre, e não raramente de forma frágil
e assumindo caráter fofoqueiro. Lula
pode se irritar à vontade com o noticiário; o que fica estranho é publicar
uma nota sobre sua irritação.
De resto, jornalista não nomeia ministro. Presidente, sim, e, a ser mantido o cabide de emprego para velhos
amigos e neocorreligionários na tal
reforma ministerial, aí haverá risco
de prejuízo ao "bom andamento de
setores da administração pública".
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