São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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CONFLITO NO IRÃ

A queda-de-braço entre conservadores e reformistas no Irã entrou em fase decisiva. O Conselho de Guardiães reviu apenas cerca de 250 dos mais de 2.000 vetos a candidaturas de reformistas que havia imposto. Isso depois de instado pelo líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, a reconsiderar as proscrições.
Khamenei, que concentra poderes quase absolutos, ainda pode evitar um confronto mais direto com os reformistas caso opte ele mesmo por liberar as candidaturas ou parte delas. Há dúvidas, porém, em relação a suas intenções. Os 12 membros do Conselho de Guardiães -seis juristas e seis clérigos- foram todos indicados pelo conservador Khamenei. Se ele de fato pretende chegar a uma solução de compromisso, está escolhendo a rota mais turbulenta. Em princípio, a questão das candidaturas tem de ser resolvida até o próximo dia 20, data em que devem ocorrer as eleições legislativas.
É possível, porém, que a avaliação dos conservadores seja a de que os adversários estão fracos e que a hora de enfrentá-los é agora. De fato, os reformistas, liderados pelo presidente Muhammad Khatami, eleito em 1997 e reeleito em 2001, já gozaram de maior popularidade.
O entusiasmo da população com as reformas, que era evidente até alguns anos atrás, foi arrefecendo. Hoje, as palavras que melhor descrevem a atitude dos iranianos em relação ao governo Khatami são desencanto e apatia. Não se pode, porém, excluir a possibilidade de a causa reformista, agora sob forte pressão conservadora, voltar a galvanizar a população. Nesse cenário, poderia haver a volta dos protestos de rua que deram início à revolução iraniana em 1978-79.
O Irã, que o presidente dos EUA considera integrante do "eixo do mal", pode ser mais uma perigosa fonte de instabilidade numa região já abalada pelas guerras no Afeganistão, no Iraque e pelo interminável conflito israelo-palestino.


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