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CARLOS HEITOR CONY
Fome não é emergência
RIO DE JANEIRO - Uma crônica que publiquei na "Pensata" da Folha
Online, na semana passada, provocou uma enxurrada de e-mails contra e a favor do texto, cujo título era
"Fome globalizada".
Comentei o movimento que Lula
está lançando em suas viagens internacionais, recebendo apoios retóricos
de vários chefes de Estado. É evidente
que ninguém pode ser contra uma
campanha destinada a acabar com a
fome no mundo. Cada Estado se organiza, prioritariamente, para garantir a vida de seus cidadãos e, para
isso, comer é uma necessidade diária
de pobres e ricos.
O principal argumento daqueles
que não aprovaram o meu texto baseou-se num equívoco. Trata-se do
caráter emergencial da campanha.
Todos concordaram que a tarefa dos
Estados é incrementar o desenvolvimento, aumentando a produção,
melhorando a distribuição e colocando a renda individual em condições
de consumir.
Entende-se a campanha de emergência durante calamidades, enchentes, incêndios, terremotos, quando
populações inteiras ficam sem alimento e, nesse caso, cabe ao Estado
providenciar o socorro imediato, independentemente da colaboração de
entidades assistenciais.
Isso tem sido feito. Grandes tragédias mobilizam o próprio governo e
governos de outras nações na hora de
ajudar a combater a fome e as doenças provocadas pela calamidade, seja
em que parte do mundo for.
Mas a fome que aflige grande parte
da humanidade não tem caráter de
emergência, ela se renova a cada dia.
Não pode nem deve ser combatida
por mobilizações, que se justificam
no caso das calamidades, mas nada
representam diante do estado crônico em que tantos seres humanos continuam vivendo num século em que a
maior parte do dinheiro do Estado é
gasto com armamentos e obras discutíveis.
Uma coisa é mandar cobertores para vítimas de uma enchente. A enchente passa. Pode durar dias, uma
semana, mas passa. A fome precisa
ser saciada todos os dias, com ou sem
enchentes ou terremotos. Não é uma
emergência.
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