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O vampiro dos Andes
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A maneira como as Forças Armadas chilenas se comportaram no retorno de Augusto Pinochet
só comprova quão importante teria sido submeter o ditador ao devido processo, em qualquer lugar do planeta
em que fosse possível fazê-lo.
O despudorado tratamento de herói
a quem comandou um regime que
praticou maciças violações aos direitos humanos só foi possível por conta
da impunidade de Pinochet e demais
responsáveis pela ditadura.
Só a impunidade -e o desejo de
preservá-la a qualquer custo- explica a prepotência com que se comportaram os chefes militares chilenos,
atropelando o bom senso, o poder civil
legitimamente constituído e até as
aparências.
Aqui, não cabe engano. Uma boa
parte do mundo civilizado horrorizou-se com a ascensão ao poder na
Áustria do partido de Joerg Haider e
seu fascismo potencial. No caso de Pinochet, só caberia horror ainda maior
porque o fascismo não foi potencial,
mas real, cruelmente real.
O que cabe esperar agora, do mundo
civilizado e em especial do governo
brasileiro, é o mais firme respaldo ao
novo presidente chileno, Ricardo Lagos, que toma posse sábado, se ele de
fato demonstrar, como afirmou domingo, que pretende subordinar as
Forças Armadas ao poder civil.
Para tanto, o primeiro passo indispensável é dar à Justiça chilena via livre para julgar os 61 casos de violações
aos direitos humanos já levados aos
tribunais locais.
No caso do governo brasileiro, não
bastam as habituais declarações aveludadas e acomodatícias de sua diplomacia. O que se espera é uma ação tão
decidida como as que a diplomacia
brasileira praticou, por exemplo, em
relação ao Paraguai, sempre que a democracia, embora precária, esteve
ameaçada no país vizinho.
É fundamental deixar claro que o
que ameaça a democracia não é a tentativa de julgar quem praticou crimes
contra a humanidade. É fingir que
eles não existiram.
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