São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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O vampiro dos Andes

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A maneira como as Forças Armadas chilenas se comportaram no retorno de Augusto Pinochet só comprova quão importante teria sido submeter o ditador ao devido processo, em qualquer lugar do planeta em que fosse possível fazê-lo.
O despudorado tratamento de herói a quem comandou um regime que praticou maciças violações aos direitos humanos só foi possível por conta da impunidade de Pinochet e demais responsáveis pela ditadura.
Só a impunidade -e o desejo de preservá-la a qualquer custo- explica a prepotência com que se comportaram os chefes militares chilenos, atropelando o bom senso, o poder civil legitimamente constituído e até as aparências.
Aqui, não cabe engano. Uma boa parte do mundo civilizado horrorizou-se com a ascensão ao poder na Áustria do partido de Joerg Haider e seu fascismo potencial. No caso de Pinochet, só caberia horror ainda maior porque o fascismo não foi potencial, mas real, cruelmente real.
O que cabe esperar agora, do mundo civilizado e em especial do governo brasileiro, é o mais firme respaldo ao novo presidente chileno, Ricardo Lagos, que toma posse sábado, se ele de fato demonstrar, como afirmou domingo, que pretende subordinar as Forças Armadas ao poder civil.
Para tanto, o primeiro passo indispensável é dar à Justiça chilena via livre para julgar os 61 casos de violações aos direitos humanos já levados aos tribunais locais.
No caso do governo brasileiro, não bastam as habituais declarações aveludadas e acomodatícias de sua diplomacia. O que se espera é uma ação tão decidida como as que a diplomacia brasileira praticou, por exemplo, em relação ao Paraguai, sempre que a democracia, embora precária, esteve ameaçada no país vizinho.
É fundamental deixar claro que o que ameaça a democracia não é a tentativa de julgar quem praticou crimes contra a humanidade. É fingir que eles não existiram.


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