São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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Quem samba por último

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O Carnaval acaba amanhã, todo mundo descansa uns dias e na próxima semana recomeça a folia política em torno do novo mínimo.
O PFL não fez uma só reunião, um só debate, não produziu um só documento argumentando com seriedade a favor do mínimo de US$ 100, que convencionou congelar em R$ 177 desde o início da discussão.
Quem puxou o cordão foi o deputado Luiz Antonio de Medeiros (PFL-SP) e os pefelistas nem levaram muito a sério. Ocorre que Medeiros, antes de ser deputado, é um velho sindicalista. Falou, colou. Para surpresa do próprio partido, que primeiro tentou tirar o bloco da rua e depois, quando percebeu a animação, correu atrás.
Bom para o PFL, ruim para o governo. Se o próprio PFL, defensor do capital, virou arauto de um aumento do mínimo para R$ 177, como justificar que não dá? E não foi a primeira vez que o PFL colocou FHC e o governo contra a parede. Preço da gasolina, combate à pobreza, medidas provisórias. A lista é bem grandinha.
Por isso -e porque sabe que, como não foi a primeira, muito menos será a última-, FHC botou as barbas de molho. E resolveu entrar no samba com o PSDB. Não o PSDB sozinho, mas com o PTB, formalmente, e com o PMDB, informalmente.
Governo e esses governistas estão quebrando a cabeça para tentar evitar o desfecho inevitável: de qualquer jeito, o PFL ganha e o governo perde.
Se o mínimo ficar em torno de R$ 177, o PFL comemora e capitaliza. Se fica em R$ 160, como deve ficar, o PFL cobra e debita do PSDB e do PMDB.
Como não há hipótese de um valor minimamente (sem trocadilho) decente, também não há hipótese de o governo se sair bem dessa. Qualquer que seja o salário, ele perde.
Em política, entretanto, ganhar no curto prazo pode significar perder no médio e vice-versa. Quanto mais comemorar ou tripudiar em torno do mínimo, mais o PFL vai acirrar os ânimos e a animosidade contra ele. No governo, no PSDB e no PMDB. Algumas vitórias acabam tendo o troco.


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