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ELIANE CANTANHÊDE
Poder dissuasório
BRASÍLIA - A decisão de botar ou
não o Exército na rua empacou no
governo. Em outras palavras: a decisão de manter o Exército nas ruas do
Rio além do Carnaval está dividindo
presidente e ministros.
Com um discurso duro, ao seu jeito,
José Dirceu (Casa Civil) parece ser o
mais favorável a um tratamento de
choque. Mais maneiro, Márcio Thomaz Bastos (Justiça) é contra o uso
do Exército. José Viegas (Defesa) fecha com Bastos, mas, diplomaticamente, negocia saídas intermediárias.
O fato é que a situação no Rio está
fora de controle. Não adiantam comissões, forças-tarefas, jeitinhos de
quando não se sabe, ou não se quer,
decidir nada. Aquela batalha campal
que todo dia a gente vê na TV e o carioca sofre na pele não aceita só pacotinhos e medidinhas de longo prazo.
Algo tem de ser feito. E já.
Ninguém pede nem imagina soldados fardados subindo morros atrás
de papelotes de cocaína, nem buscando delinquentes debaixo de camas
em casas e em barracos, nem se atracando com traficantes em plena rua.
Mas o Exército pode, sim, atuar de
outras maneiras decisivas e sem invadir o território estritamente policial, como o descrito acima. Uma é
na inteligência, para identificar
ameaças e evitar, por exemplo, que o
tráfico bloqueie uma cidade inteira.
Outra é moral, impondo respeito pela
autoridade, porque as Forças Armadas têm poder inibidor -ou "dissuasório", no jargão militar. E uma terceira maneira é óbvia: impedir o vazamento de armas pelas fronteiras.
Lula, aparentemente, vem deixando o pau quebrar entre os ministros
para usar seu poder não só de voto de
Minerva mas de comandante-em-chefe das Forças Armadas.
É duro para um presidente de esquerda ter de se debater entre botar
ou não o Exército na rua. A gente entende isso. Mas a questão não é apenas ideológica, é prática: a situação
no Rio é, efetivamente, de vida ou
morte. Todos os esforços e instrumentos devem ser usados em favor da vida e contra a morte. Principalmente
de inocentes.
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