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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Poder dissuasório

BRASÍLIA - A decisão de botar ou não o Exército na rua empacou no governo. Em outras palavras: a decisão de manter o Exército nas ruas do Rio além do Carnaval está dividindo presidente e ministros.
Com um discurso duro, ao seu jeito, José Dirceu (Casa Civil) parece ser o mais favorável a um tratamento de choque. Mais maneiro, Márcio Thomaz Bastos (Justiça) é contra o uso do Exército. José Viegas (Defesa) fecha com Bastos, mas, diplomaticamente, negocia saídas intermediárias.
O fato é que a situação no Rio está fora de controle. Não adiantam comissões, forças-tarefas, jeitinhos de quando não se sabe, ou não se quer, decidir nada. Aquela batalha campal que todo dia a gente vê na TV e o carioca sofre na pele não aceita só pacotinhos e medidinhas de longo prazo. Algo tem de ser feito. E já.
Ninguém pede nem imagina soldados fardados subindo morros atrás de papelotes de cocaína, nem buscando delinquentes debaixo de camas em casas e em barracos, nem se atracando com traficantes em plena rua.
Mas o Exército pode, sim, atuar de outras maneiras decisivas e sem invadir o território estritamente policial, como o descrito acima. Uma é na inteligência, para identificar ameaças e evitar, por exemplo, que o tráfico bloqueie uma cidade inteira. Outra é moral, impondo respeito pela autoridade, porque as Forças Armadas têm poder inibidor -ou "dissuasório", no jargão militar. E uma terceira maneira é óbvia: impedir o vazamento de armas pelas fronteiras.
Lula, aparentemente, vem deixando o pau quebrar entre os ministros para usar seu poder não só de voto de Minerva mas de comandante-em-chefe das Forças Armadas.
É duro para um presidente de esquerda ter de se debater entre botar ou não o Exército na rua. A gente entende isso. Mas a questão não é apenas ideológica, é prática: a situação no Rio é, efetivamente, de vida ou morte. Todos os esforços e instrumentos devem ser usados em favor da vida e contra a morte. Principalmente de inocentes.


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