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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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MARCELO BERABA

Responsabilidades

RIO DE JANEIRO - É curioso o que ocorre no Rio neste momento. O foco da análise da crise provocada pela ação ininterrupta do narcotráfico nos últimos dez dias fugiu do questionamento da política de segurança do governo do Estado para se concentrar na polêmica sobre o papel das Forças Armadas no combate à violência urbana.
É evidente que há algum erro grave na política implantada por Garotinho a partir de 98 e retomada agora por sua mulher, a governadora Rosinha. Ele se elegeu com a promessa de criar uma "nova polícia". Segundo dados divulgados durante sua campanha presidencial, nunca se investiu tanto em segurança como no seu período. Mas o resultado final foi negativo, agravado pelos nove meses do governo Benedita.
As polícias têm hoje mais homens, armas, carros e recursos. Mas permaneceram, na essência, as mesmas. Não houve as prometidas mudanças de foco, de concepção, de métodos de trabalho. São as mesmas polícias, com os mesmos erros, vícios e deficiências. E quando o Exército e a nova força-tarefa criada ontem pelo governo federal deixarem o Rio, elas continuarão as mesmas.
O governo do Estado tinha a obrigação de vir a público prestar contas dessa política. Em que está errada? Garotinho já escreveu mais de 350 páginas sobre segurança. Por que as reformas que defende não foram implantadas? Onde estão os erros? Por que não se muda o rumo?
É certo que a segurança do Rio depende também de ações do governo federal, como a repressão ao contrabando de armas e às rotas de drogas e a retomada do desenvolvimento. Mas a transferência de toda a responsabilidade para Brasília, como está sendo feito, é uma demonstração de que o governo do Estado já não sabe o que fazer com as suas polícias e com os seus presídios.


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