São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O "comunista" Kerry

BRUXELAS - Bem que o PT poderia começar a adaptar seu discurso para a eventualidade de o democrata John Kerry ganhar a eleição.
No seu programa "100 dias para mudar a América" (os Duda Mendonça são uma invenção norte-americana, não esqueça), Kerry propõe, no item 8: "Criar uma economia de classe média e pôr fim a uma economia de classes privilegiadas".
Se o Elio Gaspari fosse chamado para dar uma redação melhor ao pacote, diria: dar as costas ao andar de cima e olhar com carinho para o andar intermediário.
Kerry já tem um eleitor potencial no Brasil, o leitor Antonio Danin Jr., que mandou a dica com o endereço na internet das propostas do candidato democrata, acompanhada de comentários sobre o texto neste espaço que tratava do empobrecimento da classe média brasileira.
Diz o leitor: "Bastante pertinente a preocupação com o processo de extinção da classe média brasileira. Pior do que vivenciar a perda de renda -realidade para a maioria das categorias de trabalhadores- é saber que, mesmo se o país voltar a crescer em um ritmo aceitável, a recuperação salarial se dará de forma lenta e gradual".
Pior ainda, Antonio, é verificar que, desde que ganhou a eleição, Lula e a imensa maioria do PT trocaram o discurso pró-pobres por uma incessante louvação ao mercado, a seus agentes, à cautela, à estabilidade que até agora não passa de estabilidade dos cemitérios.
Não se trata de cobrar medidas revolucionárias, como a estatização dos meios de produção, a expropriação do sistema financeiro ou coisas do gênero.
Bastaria seguir a toada Kerry, que se limita a condenar os cortes de impostos para os americanos mais ricos, "de forma que possamos investir em educação e saúde". Ou "proteger os cortes de impostos para a classe média (...) e propor cortes adicionais para ajudar as famílias de classe média a chegar ao fim do mês".
Retórica? Pode ser. Mas, ainda que seja, é mais do que o PT faz.


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