São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Imagem dilapidada

BRASÍLIA - É tão comum nesta época do ano o MST invadir terras particulares que as cenas parecem não causar mais espanto. Ontem, os jornais estamparam em suas primeiras páginas fotografias que poderiam ilustrar livros como "Germinal", escrito por Émile Zola em 1881.
Ocorre que uma das invasões atuais é especialmente danosa para a imagem do país no exterior. Trata-se da ocupação de uma fazenda de eucaliptos no sul da Bahia, de propriedade da multinacional Veracel, de capital brasileiro, sueco e finlandês.
Não é uma associação qualquer. Os investidores estiveram com Lula no Palácio do Planalto em 8 de maio do ano passado. Anunciaram dados para animar qualquer governo.
A Veracel quer investir US$ 1,25 bilhão no sul da Bahia. É, de longe, um dos maiores investimentos produtivos individuais em curso no país. A empresa planeja começar a exportar em 2005 cerca de US$ 500 milhões por ano. Já emprega 2.000 pessoas na atividade florestal. Outros 6.500 trabalhadores constroem uma fábrica. A área plantada é de 70 mil hectares, havendo outra extensão idêntica para preservação ambiental.
É possível supor que uma empresa sempre aumente um pouco ao relatar o que faz de bom. Mas mesmo reduzidos pela metade, os números da Veracel são dignos de menção.
Pois o MST invadiu esse empreendimento. Derrubou quatro hectares de eucaliptos em menos de duas horas. Na área devastada, começou a plantar feijão, mandioca e milho. "Não dá mais para esperar. O presidente Lula só promete", resumiu um integrante do MST baiano.
Seria um erro e até uma injustiça debitar apenas na conta de Lula esse tipo de ação tresloucada do MST. Ainda assim, é inegável que existe uma certa lassidão excessiva do PT a respeito desse movimento. Eduardo Suplicy beijou um dos líderes recentemente. Lula já vestiu o boné. São atos quase inúteis. Mostram tolerância. OK. Só que a imagem do Brasil continua a ser dilapidada mundo afora.


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