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FERNANDO RODRIGUES
Imagem dilapidada
BRASÍLIA - É tão comum nesta época do ano o MST invadir terras particulares que as cenas parecem não causar mais espanto. Ontem, os jornais
estamparam em suas primeiras páginas fotografias que poderiam ilustrar
livros como "Germinal", escrito por
Émile Zola em 1881.
Ocorre que uma das invasões
atuais é especialmente danosa para a
imagem do país no exterior. Trata-se
da ocupação de uma fazenda de eucaliptos no sul da Bahia, de propriedade da multinacional Veracel, de
capital brasileiro, sueco e finlandês.
Não é uma associação qualquer. Os
investidores estiveram com Lula no
Palácio do Planalto em 8 de maio do
ano passado. Anunciaram dados para animar qualquer governo.
A Veracel quer investir US$ 1,25 bilhão no sul da Bahia. É, de longe, um
dos maiores investimentos produtivos individuais em curso no país. A
empresa planeja começar a exportar
em 2005 cerca de US$ 500 milhões
por ano. Já emprega 2.000 pessoas na
atividade florestal. Outros 6.500 trabalhadores constroem uma fábrica.
A área plantada é de 70 mil hectares,
havendo outra extensão idêntica para preservação ambiental.
É possível supor que uma empresa
sempre aumente um pouco ao relatar
o que faz de bom. Mas mesmo reduzidos pela metade, os números da Veracel são dignos de menção.
Pois o MST invadiu esse empreendimento. Derrubou quatro hectares
de eucaliptos em menos de duas horas. Na área devastada, começou a
plantar feijão, mandioca e milho.
"Não dá mais para esperar. O presidente Lula só promete", resumiu um
integrante do MST baiano.
Seria um erro e até uma injustiça
debitar apenas na conta de Lula esse
tipo de ação tresloucada do MST.
Ainda assim, é inegável que existe
uma certa lassidão excessiva do PT a
respeito desse movimento. Eduardo
Suplicy beijou um dos líderes recentemente. Lula já vestiu o boné. São atos
quase inúteis. Mostram tolerância.
OK. Só que a imagem do Brasil continua a ser dilapidada mundo afora.
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