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RUMSFELD NA BERLINDA
Todas as razões alegadas pelo
presidente George W. Bush para atacar o Iraque se esfacelaram. As
armas de destruição em massa que
Saddam Hussein possuiria não existiam. A relação entre o regime anterior e a Al Qaeda nunca foi demonstrada, mas não há dúvida de que foi a
invasão norte-americana que levou o
terrorismo ao Iraque. Agora, a intervenção militar, que deveria levar aos
iraquianos paz, democracia e respeito aos direitos humanos, degenerou
numa guerra renitente na qual as forças ocupantes não hesitam em torturar adversários. É difícil hoje não
classificar como desastrosa a decisão
de lançar-se neste conflito.
Não é à toa, portanto, que várias vozes já se levantam para pedir a cabeça
de Donald Rumsfeld, o secretário de
Defesa dos EUA, visto por muitos como o arquiteto da invasão. Nos últimos dias, diversos congressistas
-democratas e republicanos- exigiram a sua demissão. Também a celebrada revista britânica "The Economist", que foi desde o início favorável
à intervenção no Iraque, traz na capa
de sua edição desta semana uma das
fotografias de tortura sob a manchete: "Rumsfeld, renuncie".
A ampla repercussão gerada pelas
denúncias de tortura ameaça fazer vítimas dentro e fora dos EUA. Se já estava difícil para Washington administrar o Iraque sem o escândalo, a
tarefa agora parece quase irrealizável. Os iraquianos têm hoje bons
motivos para não confiar nos soldados nem nas altas autoridades da
coalizão. O caso provoca repercussões sobre todo o Oriente Médio. Os
editoriais irados da imprensa árabe
contra os EUA encontraram agora
comprovação material.
Tudo isso tem, é claro, efeitos sobre a campanha eleitoral norte-americana. A popularidade de Bush caiu
ao nível mais baixo desde o início do
mandato, segundo pesquisa CNN/
Gallup. Apesar de o presidente ter
declarado ontem que manteria
Rumsfeld, não será uma surpresa se
nos próximos dias ou semanas o secretário cair. Bush precisa dar respostas ao eleitorado, mesmo que à
custa de bodes expiatórios.
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