São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Dor-de-cotovelo

BRUXELAS - As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à política externa do governo têm muito jeito de dor-de-cotovelo.
De um homem do mundo, como FHC sempre foi, era de esperar que a política externa fosse o forte de seu governo. De um homem como Luiz Inácio Lula da Silva, mais apegado à própria terra, seria igualmente lógico esperar um certo desprezo pelo mundo ou, ao menos, baixa prioridade.
Mas é muito mais na política externa, em vez da interna, que o atual governo pode exibir êxitos.
É equivocada, por exemplo, a crítica de FHC segundo a qual o Brasil estaria voltando aos anos 70, provável alusão à ênfase nas relações sul/sul. Parece, mas não é, reminiscência do "terceiro-mundismo", que marcou parte do período militar.
Mas não há esse parentesco. Ao contrário: como tem mostrado Rubens Ricupero, diretor-geral da Unctad, o braço da ONU para Comércio e Desenvolvimento, o comércio entre países do sul só tem feito crescer. Logo, é uma boa aposta para qualquer país que quer e precisa aumentar suas exportações.
Haveria erro se, ao dedicar-se ao relacionamento sul/sul, o Itamaraty estivesse desprezando o norte, que é a parte rica do mundo e, por extensão, parceiro indispensável.
Mas não é o que está ocorrendo, do que dá prova a negociação com a União Européia, que está chegando mais perto do que nunca de um acordo inclusive na delicada questão agrícola.
Ressalve-se que a negociação com a UE começou no governo FHC, mas, no governo Lula, ganhou em profundidade com a crescente incorporação do setor privado, que municia os negociadores do governo com números, não com conceitos ideológicos (que também têm valor, mas não é o caso de tratar deles aqui).
Mesmo na relação com os Estados Unidos, a crítica de FHC ou saiu excessivamente tortuosa nos jornais ou tem um ranço indigno de um intelectual qualificado.


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