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CLÓVIS ROSSI
Dor-de-cotovelo
BRUXELAS - As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à
política externa do governo têm muito jeito de dor-de-cotovelo.
De um homem do mundo, como
FHC sempre foi, era de esperar que a
política externa fosse o forte de seu
governo. De um homem como Luiz
Inácio Lula da Silva, mais apegado à
própria terra, seria igualmente lógico
esperar um certo desprezo pelo mundo ou, ao menos, baixa prioridade.
Mas é muito mais na política externa, em vez da interna, que o atual governo pode exibir êxitos.
É equivocada, por exemplo, a crítica de FHC segundo a qual o Brasil estaria voltando aos anos 70, provável
alusão à ênfase nas relações sul/sul.
Parece, mas não é, reminiscência do
"terceiro-mundismo", que marcou
parte do período militar.
Mas não há esse parentesco. Ao
contrário: como tem mostrado Rubens Ricupero, diretor-geral da Unctad, o braço da ONU para Comércio e
Desenvolvimento, o comércio entre
países do sul só tem feito crescer. Logo, é uma boa aposta para qualquer
país que quer e precisa aumentar
suas exportações.
Haveria erro se, ao dedicar-se ao
relacionamento sul/sul, o Itamaraty
estivesse desprezando o norte, que é a
parte rica do mundo e, por extensão,
parceiro indispensável.
Mas não é o que está ocorrendo, do
que dá prova a negociação com a
União Européia, que está chegando
mais perto do que nunca de um acordo inclusive na delicada questão
agrícola.
Ressalve-se que a negociação com a
UE começou no governo FHC, mas,
no governo Lula, ganhou em profundidade com a crescente incorporação
do setor privado, que municia os negociadores do governo com números,
não com conceitos ideológicos (que
também têm valor, mas não é o caso
de tratar deles aqui).
Mesmo na relação com os Estados
Unidos, a crítica de FHC ou saiu excessivamente tortuosa nos jornais ou
tem um ranço indigno de um intelectual qualificado.
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