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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Cevando os Bin Laden

SÃO PAULO - A reação ao unilateralismo norte-americano está provocando uma situação absurda: o líder da oposição chama-se Osama bin Laden aos olhos de uma parte considerável dos habitantes do planeta, em especial no mundo muçulmano.
Essa constatação aparece com alguma nitidez em pesquisa feita pelo Centro de Pesquisas Pew em 44 países. O levantamento corrobora a sensação empírica transmitida na quarta-feira, em artigo para o jornal espanhol "El País", pelo escritor libanês Selim Nassib.
"Como a ONU, a Europa, a França, a Rússia, a China, o movimento mundial contra a guerra, o mundo árabe e muçulmano, o papa e o dalai-lama são impotentes, há alguém que parece ter a capacidade de fazer dano ao império, Osama bin Laden", escreveu Nassib.
Claro que essa percepção pode ser totalmente falsa. Sabe-se muito pouco sobre a Al Qaeda para tomá-la, com segurança, por responsável por todos os atentados recentes e não tão recentes atribuídos à rede supostamente chefiada por Bin Laden.
De todo, trata-se de um sentimento forte e disseminado.
Se se puder aceitar como verdadeira a equiparação que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez entre o unilateralismo norte-americano e o terrorismo, o corolário inevitável seria considerar que o mundo está sendo empurrado a escolher entre a barbárie e a barbárie.
Exagero? Nem tanto, se se voltar a Nassib e à sua afirmação, indiscutível, segundo a qual os EUA são "um país tão poderoso que cada fato consumado que impõe se converte na nova realidade com a qual todo o mundo tem de conviver".
Vide o caso iraquiano: o presidente francês Jacques Chirac tinha toda a razão moral ao pretender antepor a força da razão à razão da força. Prevaleceu a força, e Chirac, como o resto do planeta, está sendo forçado a conviver com ela, goste ou não. Suspeito que a maioria não goste.


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