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CLÓVIS ROSSI
Cevando os Bin Laden
SÃO PAULO - A reação ao unilateralismo norte-americano está provocando uma situação absurda: o líder
da oposição chama-se Osama bin Laden aos olhos de uma parte considerável dos habitantes do planeta, em
especial no mundo muçulmano.
Essa constatação aparece com alguma nitidez em pesquisa feita pelo
Centro de Pesquisas Pew em 44 países. O levantamento corrobora a sensação empírica transmitida na quarta-feira, em artigo para o jornal espanhol "El País", pelo escritor libanês
Selim Nassib.
"Como a ONU, a Europa, a França,
a Rússia, a China, o movimento
mundial contra a guerra, o mundo
árabe e muçulmano, o papa e o dalai-lama são impotentes, há alguém
que parece ter a capacidade de fazer
dano ao império, Osama bin Laden",
escreveu Nassib.
Claro que essa percepção pode ser
totalmente falsa. Sabe-se muito pouco sobre a Al Qaeda para tomá-la,
com segurança, por responsável por
todos os atentados recentes e não tão
recentes atribuídos à rede supostamente chefiada por Bin Laden.
De todo, trata-se de um sentimento
forte e disseminado.
Se se puder aceitar como verdadeira a equiparação que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso fez entre o unilateralismo norte-americano
e o terrorismo, o corolário inevitável
seria considerar que o mundo está
sendo empurrado a escolher entre a
barbárie e a barbárie.
Exagero? Nem tanto, se se voltar a
Nassib e à sua afirmação, indiscutível, segundo a qual os EUA são "um
país tão poderoso que cada fato consumado que impõe se converte na
nova realidade com a qual todo o
mundo tem de conviver".
Vide o caso iraquiano: o presidente
francês Jacques Chirac tinha toda a
razão moral ao pretender antepor a
força da razão à razão da força. Prevaleceu a força, e Chirac, como o resto do planeta, está sendo forçado a
conviver com ela, goste ou não. Suspeito que a maioria não goste.
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