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CLÓVIS ROSSI
O poder e o operário
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vive se orgulhando
pelo fato de um típico representante
do andar de baixo ter chegado até
onde ele chegou. Tem toda a razão,
mas, infelizmente, essa é uma história ainda incompleta.
Qual é a graça de um operário chegar à Presidência se, nela, faz a mesmíssima política que patrões e doutores fizeram antes dele?
Lula é o mais conservador dos presidentes, desde a volta da democracia, se se retirar da palavra "conservador" a carga ideológica e usá-la
apenas no sentido de aquele que preserva o que encontrou.
José Sarney encontrou um vasto entulho autoritário, e seu governo removeu-o inteirinho, a ponto de legar
o mais completo leque de liberdades
democráticas da história. Fernando
Collor encontrou um país fechado e
abriu-o de forma irreversível. Itamar
Franco encontrou o já crônico problema da inflação e derrubou-a.
Fernando Henrique Cardoso encontrou um Estado de mil braços e
privatizou tudo o que pôde.
Repito: não estou fazendo juízo de
valor, não estou dizendo que a abertura de Collor foi boa ou ruim, que as
privatizações de FHC foram boas ou
ruins. Estou relatando fatos.
Que mudança introduziu Lula? Zero. O resultado de algumas políticas
pode ser melhor ou pior, conforme as
circunstâncias internas ou externas,
como se dá no caso da balança comercial. Mas é falso dizer que as políticas são diferentes
O resultado externo é uma soma de
câmbio (desvalorizado no governo
anterior), apetite pantagruélico da
China por "commodities", com o
conseqüente aumento do preço destas, e também da atuação de um ministro craque na área (Luiz Fernando Furlan). Mas a política é igual.
Antes de ficar cego de orgulho, Lula
deveria pensar nos exemplos de outros do andar de baixo que também
chegaram ao poder, como o polonês
Lech Walesa, hoje no ostracismo, e o
peruano Alejandro Toledo, campeão
de impopularidade em uma região
em que os governantes não são propriamente idolatrados.
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