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ELIANE CANTANHÊDE
Ame-o ou deixe-o
BRASÍLIA - Nos tempos do general Emílio Médici, presidente de 70 a 74,
o Parlamento era decorativo, a Constituição era ficção, a imprensa estava
longe de ser livre e o pau quebrava
nas masmorras do regime. Mas o
país, ingenuamente, manipuladamente, fazia festa. Médici foi "premiado" com o tricampeonato de futebol de 70 e com a média de crescimento de 11% ao ano até 74, quando
a crise do petróleo segurou a onda.
Para democratas, eram os "anos de
chumbo", mas o slogan massificado
era ufanista: "Ninguém segura este
país!". Resultado da pesada censura
às notícias sobre atrocidades políticas
aliada ao generoso marketing dos feitos econômicos e futebolísticos.
Criou-se, assim, uma espécie de reverso da medalha: uma vergonha coletiva de cantar o hino, enaltecer a
bandeira, reverenciar -ou até mesmo simplesmente respeitar- os símbolos nacionais. Pegava mal.
No país de hoje, com as mesmas desigualdades, mas sem os horrores da
ditadura, nada contra festas cívicas e
cidadãos nas ruas comemorando a
independência. Como, aliás, países
desenvolvidos como EUA e França
são mestres em fazer.
Também é justo e legítimo que Lula
receba atletas vitoriosos, comemore
gols e medalhas e vibre com a retomada de investimentos, da produção
industrial, das vendas no comércio e
do nível de emprego.
O que se questiona é o "ser ou não
ser" deste Sete de Setembro: Lula espera ser instrumento da recuperação
da auto-estima popular ou quer que
a auto-estima popular seja instrumento de seu projeto de reeleição e de
décadas de PT no poder?
Patriotismo é diferente de patriotada, nacionalismo não tem só o sentido de bairrismo, homenagear datas
nacionais não significa (ou não deve
significar) bater continência para as
Forças Armadas. E lotar a Esplanada
dos Ministérios para ver a Esquadrilha da Fumaça não pode ser visto e
usado como estímulo para a perpetuação do governo de plantão.
Duro é convencer os marqueteiros
do governo e o politburo do PT.
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