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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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DOUTRINA SHARON

Não há como deixar de lamentar o agravamento da dinâmica de violência que tem marcado ações de israelenses e de palestinos no Oriente Médio. É claro que Israel tem o direito de defender-se de atos ignominiosos como o atentado na cidade de Haifa que matou 19 pessoas. É preciso, porém, reconhecer que a resposta israelense contra a Síria é politicamente temerária, ao trazer o risco de uma ampliação do conflito, além de abusiva e quase inócua em termos de autodefesa. Os próprios militares israelenses admitem que a operação não deverá reduzir a capacidade de grupos palestinos realizarem atos de terror.
Não será exibindo seu músculo militar que Israel conseguirá, como é seu direito, fronteiras seguras dentro das quais sua população possa viver. Se existe um caminho para a paz no Oriente Médio, ele passa pelo reconhecimento de direitos da parte adversária e pela negociação, não por ações militares e de terrorismo.
Infelizmente, é a lógica do confronto e da provocação a que tem predominado. Em outros tempos, a incursão sobre território sírio -a primeira desde a guerra de 1973- poderia ter provocado protestos até mesmo dos EUA, que normalmente apóiam as ações israelenses.
Ocorre, porém, que o gabinete do primeiro-ministro Ariel Sharon, utilizando-se do mesmo discurso antiterrorista de George W. Bush, procura valer-se de argumentos comparáveis aos esgrimidos pela Casa Branca para "justificar" a invasão do Afeganistão e do Iraque.
A crer nas primeiras reações norte-americanas, a tática logrou resultados. A Casa Branca apenas reafirmou que o Estado de Israel tem direito a se defender e deixou bastante claro que, a Síria escolheu "o lado errado" na luta contra o terrorismo.
Israel, que é a potência militar inconteste da região, vai, portanto, se abrigando sob os princípios da Doutrina Bush, que prevê ataques preventivos. Não é difícil perceber que, se todos os Estados se julgarem no direito de agir do mesmo modo, o mundo estará condenado ao caos.


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