|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A Alca e a quinta-coluna
SÃO PAULO- Nada contra quem queira levar o Brasil a aderir à Alca a
qualquer preço. Mas tudo contra a
deformação das informações a respeito das negociações, como está
ocorrendo agora. Chega a parecer
quinta-coluna.
Primeiro, a falsa questão do suposto isolamento do Brasil ao propor a
chamada "Alca light". Que diabos de
isolamento é esse, se a idéia tem o
apoio dos países caribenhos, que são
15, da Venezuela e de dois dos três sócios brasileiros no Mercosul (Argentina e Paraguai)?
Só aí são 19 países de um total de
34. Dezenove sobre 34 é maioria, salvo nas contas da quinta-coluna, que
segue ao pé da letra o raciocínio (obviamente enviesado) dos EUA.
Chegou-se ao absurdo de inventar
a adesão da Venezuela às teses norte-americanas. O fato: Victor Alvarez,
chefe da delegação venezuelana na
recente reunião da Alca, disse que "a
falta de vontade e de criatividade para encarar as dificuldades e o recente
efeito OMC-Cancún deixam clara a
inviabilidade da data prevista, assim
como a necessidade de revisar o conteúdo da ampla proposta inicial".
Ao contrário do que diz a quinta-coluna, a Venezuela não só quer uma
Alca desidratada como quer empurrá-la para além de 2005.
Os EUA dizem, e a quinta-coluna
reproduz acriticamente, que o Mercosul rachou e apresenta como suposta prova documento uruguaio que
defende uma Alca abrangente. Esquecem-se de mencionar que o texto
uruguaio cobra, já no preâmbulo, a
eliminação dos subsídios à exportação de produtos agrícolas, enquanto
os Estados Unidos preferem discutir
agricultura na OMC.
Esquecem-se também de que foi o
presidente uruguaio, Jorge Battle, o
primeiro a propor, ainda no ano passado, o formato 4+1 para as negociações do Mercosul com os Estados
Unidos. O 4+1 é, agora, um dos três
trilhos da proposta do Brasil/Mercosul para a Alca.
A coisa é mais complexa do que os
simplismos que a quinta-coluna
compra alegremente dos EUA.
Texto Anterior: Editoriais: A VIAGEM DE BENEDITA
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Os dispensáveis Índice
|