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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A Alca e a quinta-coluna

SÃO PAULO- Nada contra quem queira levar o Brasil a aderir à Alca a qualquer preço. Mas tudo contra a deformação das informações a respeito das negociações, como está ocorrendo agora. Chega a parecer quinta-coluna.
Primeiro, a falsa questão do suposto isolamento do Brasil ao propor a chamada "Alca light". Que diabos de isolamento é esse, se a idéia tem o apoio dos países caribenhos, que são 15, da Venezuela e de dois dos três sócios brasileiros no Mercosul (Argentina e Paraguai)?
Só aí são 19 países de um total de 34. Dezenove sobre 34 é maioria, salvo nas contas da quinta-coluna, que segue ao pé da letra o raciocínio (obviamente enviesado) dos EUA.
Chegou-se ao absurdo de inventar a adesão da Venezuela às teses norte-americanas. O fato: Victor Alvarez, chefe da delegação venezuelana na recente reunião da Alca, disse que "a falta de vontade e de criatividade para encarar as dificuldades e o recente efeito OMC-Cancún deixam clara a inviabilidade da data prevista, assim como a necessidade de revisar o conteúdo da ampla proposta inicial".
Ao contrário do que diz a quinta-coluna, a Venezuela não só quer uma Alca desidratada como quer empurrá-la para além de 2005.
Os EUA dizem, e a quinta-coluna reproduz acriticamente, que o Mercosul rachou e apresenta como suposta prova documento uruguaio que defende uma Alca abrangente. Esquecem-se de mencionar que o texto uruguaio cobra, já no preâmbulo, a eliminação dos subsídios à exportação de produtos agrícolas, enquanto os Estados Unidos preferem discutir agricultura na OMC.
Esquecem-se também de que foi o presidente uruguaio, Jorge Battle, o primeiro a propor, ainda no ano passado, o formato 4+1 para as negociações do Mercosul com os Estados Unidos. O 4+1 é, agora, um dos três trilhos da proposta do Brasil/Mercosul para a Alca.
A coisa é mais complexa do que os simplismos que a quinta-coluna compra alegremente dos EUA.


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