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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Os dispensáveis

BRASÍLIA - Os ministros Roberto Rodrigues e Marina Silva não participaram da decisiva reunião do presidente Lula com o "núcleo duro" do governo e a bancada gaúcha em que se decidiu liberar o plantio da soja transgênica para a próxima safra. O assunto é diretamente vinculado aos ministérios de Rodrigues (Agricultura) e de Marina (Meio Ambiente).
Os ministros José Graziano e Benedita da Silva (ela devia andar em algum encontro evangélico) não foram às reuniões decisivas do Bolsa-Família, que unifica os programas sociais e soterra o Fome Zero. O assunto é diretamente vinculado aos ministérios de Graziano (Fome Zero) e de Benedita (Assistência Social).
O ministro Humberto Costa também não foi convidado para a reunião de Lula com a cúpula do governo para definir a sanção ao Estatuto do Idoso. Detalhe: ele havia sugerido o veto ao artigo das mensalidades de planos de saúde e não foi atendido. O assunto é diretamente vinculado ao ministério de Costa (Saúde).
O ministro Miro Teixeira falou, falou e falou, até mesmo com o presidente, contra os reajustes de telefonia que estavam em estudo na Anatel. Lula ouviu, ouviu e concordou. Mas a Anatel anunciou os índices, e o "núcleo duro" criticou o ministro e aplaudiu a agência. O assunto é diretamente vinculado ao ministério de Miro (Comunicações).
Temos, então, um governo em que o presidente decide tudo com seu politburo de quatro ministros (Dirceu, Palocci, Gushiken e, eventualmente, Dulci), e o resto é apenas confeito de bolo. Reúnem-se os poderosos, anunciam-se as medidas. Cabe aos dispensáveis fazer beicinho, dar uma ou duas declarações levemente indignadas e fica tudo por isso mesmo.
Enquanto a reforma ministerial não vem, os ministros ou ficam de fora mesmo ou são substituídos pelos seus secretários-executivos nas reuniões que efetivamente contam. E depois da reforma? Não há risco de piorar. O "núcleo duro" vai continuar mandando em tudo. E o resto vai continuar sendo... o resto.


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