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ELIANE CANTANHÊDE
Os dispensáveis
BRASÍLIA - Os ministros Roberto Rodrigues e Marina Silva não participaram da decisiva reunião do presidente Lula com o "núcleo duro" do governo e a bancada gaúcha em que se
decidiu liberar o plantio da soja
transgênica para a próxima safra. O
assunto é diretamente vinculado aos
ministérios de Rodrigues (Agricultura) e de Marina (Meio Ambiente).
Os ministros José Graziano e Benedita da Silva (ela devia andar em algum encontro evangélico) não foram
às reuniões decisivas do Bolsa-Família, que unifica os programas sociais e
soterra o Fome Zero. O assunto é diretamente vinculado aos ministérios
de Graziano (Fome Zero) e de Benedita (Assistência Social).
O ministro Humberto Costa também não foi convidado para a reunião de Lula com a cúpula do governo para definir a sanção ao Estatuto
do Idoso. Detalhe: ele havia sugerido
o veto ao artigo das mensalidades de
planos de saúde e não foi atendido. O
assunto é diretamente vinculado ao
ministério de Costa (Saúde).
O ministro Miro Teixeira falou, falou e falou, até mesmo com o presidente, contra os reajustes de telefonia
que estavam em estudo na Anatel.
Lula ouviu, ouviu e concordou. Mas
a Anatel anunciou os índices, e o
"núcleo duro" criticou o ministro e
aplaudiu a agência. O assunto é diretamente vinculado ao ministério de
Miro (Comunicações).
Temos, então, um governo em que
o presidente decide tudo com seu politburo de quatro ministros (Dirceu,
Palocci, Gushiken e, eventualmente,
Dulci), e o resto é apenas confeito de
bolo. Reúnem-se os poderosos, anunciam-se as medidas. Cabe aos dispensáveis fazer beicinho, dar uma ou
duas declarações levemente indignadas e fica tudo por isso mesmo.
Enquanto a reforma ministerial
não vem, os ministros ou ficam de fora mesmo ou são substituídos pelos
seus secretários-executivos nas reuniões que efetivamente contam. E depois da reforma? Não há risco de piorar. O "núcleo duro" vai continuar
mandando em tudo. E o resto vai
continuar sendo... o resto.
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