São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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ESCOLHA CAUTELOSA

Foi surpreendente a indicação de Harriet E. Miers para a Suprema Corte dos EUA. O principal atributo de Miers, que jamais exerceu a atividade de juíza, para o posto é ser advogada e amiga do presidente George W. Bush. Ainda assim, a escolha do presidente parece ter desapontado mais seus aliados ultraconservadores do que a oposição liberal.
Miers é acima de tudo uma desconhecida. Como nunca exerceu nenhuma magistratura, suas opiniões legais são praticamente desconhecidas. Não há dúvida de que se trata, como Bush, de uma conservadora. Também como o presidente, converteu-se a um grupo cristão evangélico. Mas sua história de vida e os cargos que já ocupou indicam que ela seja mais pragmática do que ideológica. Nesse quesito, seu perfil não é muito diverso do da juíza Sandra Day O'Connor, a quem deverá substituir.
Para a ala mais conservadora do Partido Republicano, Bush desperdiçou uma oportunidade única para fazer a Suprema Corte pender duradouramente para a direita. Além de Miers, Bush acaba de indicar John Roberts para presidir o tribunal. Roberts, por ser também um conservador não radical, teve seu nome aprovado pelo Senado sem dificuldades.
A opção de Bush por nomes mais moderados se explica em parte pela difícil situação política que atravessa. Sua popularidade, que já estava em queda por conta dos insucessos no Iraque, despencou ainda mais após a crise deflagrada pelo furacão Katrina. Nessas condições, tudo o que Bush queria evitar era uma queda-de-braço com a oposição democrata em torno da indicação para a Suprema Corte. E não há muitas dúvidas de que os democratas fariam tudo para impedir a aprovação de um nome que lhes parecesse excessivamente ideológico. Juízes da Suprema Corte, à diferença de mandatários que permanecem em seus cargos por quatro ou oito anos, ficam em suas cadeiras por toda a vida. São, assim, capazes de moldar o sistema legal norte-americano por gerações.


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