![]() São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Agora é cumprir CLÁUDIO WEBER ABRAMO
Ainda no primeiro turno da eleição que acabaria por vencer, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva
comprometeu-se publicamente a adotar uma série de medidas específicas de
combate à corrupção. Tais medidas,
propostas pela Transparência Brasil,
haviam sido consignadas num documento denominado Compromisso Anticorrupção, que Lula assinou.
Dois exemplos bastam para ilustrá-lo. A grande maioria dos países, incluindo os desenvolvidos, debate-se atualmente com o problema da garantia ao público do acesso às informações detidas pelo Estado. O Brasil é, talvez, o único país em que isso é assegurado irrestritamente na Constituição (art. 5º, inciso 33). Por que, então, há tão pouco acesso real à informação no Brasil? O que falta são mecanismos administrativos para materializar esse acesso -no que as iniciativas de governo eletrônico têm papel muito importante, desde que corretamente concebidas e articuladas entre si. Outro exemplo é o fato de que grande parte da corrupção acontece nas licitações públicas. A legislação brasileira para licitações é uma das mais aperfeiçoadas do mundo. Um estudo comparativo realizado pela Transparência Internacional entre ambientes de licitação pública em mais de dez países latino-americanos situou o Brasil no alto da escala, a grande distância do mais próximo. O que falta no país para que as licitações sejam mais limpas não é um reordenamento legal, mas a disseminação de procedimentos conformados à lei, a educação dos quadros administrativos (incluindo os do Judiciário) para que entendam como aplicar as regras, a estimulação dos segmentos econômicos para que defendam seus direitos e interesses, a difusão de informações detalhadas sobre os gastos públicos, de forma a permitir o controle da imprensa e das comunidades. Seria papel de uma agência anticorrupção especificar as medidas a serem tomadas pelos diferentes órgãos e poderes do Estado para atingir esses -e outros- objetivos. Vários países, entre eles diversos do Primeiro Mundo, fundaram agências como a preconizada pela Transparência Brasil. Não o fizeram porque faltassem leis ou porque considerassem suas instituições apodrecidas. Fizeram-no porque reconheceram a complexidade intrínseca da corrupção e a necessidade de melhor articular os mecanismos de controle do Estado e da sociedade. Numa democracia representativa, o mecanismo de controle mais fundamental de todos é o voto. Em 28 de outubro, o eleitor brasileiro escolheu Lula e seus compromissos de campanha. Em particular, escolheu um candidato que se comprometeu a exercer um combate organizado à corrupção. Lula reiterou a promessa em seu pronunciamento de 29 de outubro, afirmando que "a dura travessia que o Brasil enfrentará exigirá austeridade no uso do dinheiro público e combate implacável à corrupção". Agora é cumprir. Cláudio Weber Abramo, bacharel em matemática e mestre em filosofia da ciência, é secretário-geral da ONG Transparência Brasil (www.transparencia.org.br) e membro do Conselho Diretor da Transparency International. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Silvano Mário Attilio Raia: Fila para transplante de fígado Índice |
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