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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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ALENTO À PAZ

Se a idéia por trás do Acordo de Genebra, o plano alternativo para a paz entre israelenses e palestinos, era romper o marasmo nas negociações, ele foi plenamente bem-sucedido. A iniciativa, que não tem sanção oficial de nenhuma das partes, arrancou elogios do presidente George W. Bush. Mais ainda, contrariando pedido de Israel, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, encontrou-se com os principais formuladores do plano, o ex-ministro palestino Iasser Abed Rabbo e o ex-ministro israelense Yossi Beilin.
Cogita-se até mesmo de uma reunião entre os ex-ministros e o subsecretário de Defesa norte-americano, Paul Wolfowitz, um dos mais ferrenhos defensores das políticas israelenses no governo Bush.
O apoio das mais altas autoridades dos EUA ao Acordo de Genebra mostra uma inflexão na política de Washington para o Oriente Médio. Não se trata, é claro, de uma mudança radical. Não há nenhum indício de que os EUA vão deixar de apoiar Israel ostensivamente como vêm fazendo nas últimas décadas. Ainda que Bush quisesse rever o papel dos EUA na região, não escolheria um período pré-eleitoral para desagradar ao influente voto judaico. Ao que tudo indica, a Casa Branca está acenando para as autoridades israelenses que elas precisarão fazer concessões maiores para manter vivo o plano de paz dos EUA para a região, que se encontra imerso na letargia.
A nova atitude norte-americana representa um golpe para o governo do premiê israelense, Ariel Sharon, que vinha qualificando o plano como "subversivo". O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, não chegou a apoiar oficialmente a iniciativa, mas a elogiou e enviou uma delegação para a cerimônia de lançamento em Genebra, na semana passada.
O Acordo de Genebra pretende resolver até os detalhes de um acerto final de paz. Diferentemente da iniciativa norte-americana e de outros acordos anteriores, seus autores não se furtaram a abordar questões polêmicas, como o estatuto de Jerusalém (que ambos os lados reivindicam como capital) e o direito de retorno de refugiados palestinos e seus descendentes às terras que possuíam no que é hoje Israel (tópico que levou ao colapso das negociações em 2000). O acordo chega até a tratar das fronteiras entre os dois Estados.
Como não poderia deixar de ser, a iniciativa de Genebra exigiu amplas concessões das duas partes. Um exemplo: os palestinos ficariam com a maior parte de Jerusalém, mas abririam mão do direito de retorno.
Paradoxalmente, as concessões são tão amplas e estão tão perto do limite de não-aceitação para os dois lados que o plano parece ter uma chance real não de ser aceito imediatamente, mas de recolocar a paz na agenda da região, tornando-se um paradigma para futuras negociações.



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