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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O comércio e Joãosinho Trinta

SÃO PAULO - Faz todo o sentido a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma união dos pobres para fortalecer-se no comércio internacional. Claro que a direita brasileira, jurássica como sempre foi, achará que é bobagem, reminiscência da guerra fria e por aí vai.
Mas, tolices ideológicas à parte, faz sentido porque:
1) Vem aumentando significativamente o comércio Sul-Sul. É óbvio que um empurrão político faria com que aumentasse mais ainda.
2) Mesmo um bloco cheio de furos, como o Mercosul, ajuda a defender a tese: a União Européia, por exemplo, faz questão de negociar só com o bloco, não com o Brasil isoladamente, por mais que a economia brasileira seja maior que a dos demais sócios. Aliás, o mandato negociador dos europeus só vale se o Mercosul não desmanchar no ar.
Convém, em todo caso, não ser muito otimista sobre o real desejo (ou possibilidades) de os pobres se amarem reciprocamente.
Pego um caso muito concreto e muito recente, o da ministra equatoriana do Comércio, Ivone Bakri. Em setembro, na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, a moça comparecia, saltitante, às entrevistas coletivas do então G20, o grupo de países em desenvolvimento criado por Brasil e Índia para tentar arrancar a abertura agrícola dos países ricos.
Na entrevista de encerramento, Bakri, loira vistosa, sorria de orelha a orelha ao distribuir aos jornalistas cartões de visita que tirava de uma carteirinha prateada, consumando seus 15 segundos de estrelato.
Dois meses depois, em Miami (reunião ministerial da Área de Livre Comércio das Américas), a moça, sempre loira, sempre vistosa, fazia o inverso: dava as mãos (literalmente) ao responsável pelo comércio exterior norte-americano, Robert Zoellick, na cerimônia de anúncio da intenção de assinar acordo de livre comércio entre os EUA e países andinos.
É bom, portanto, ter presente Joãosinho Trinta e a sua lembrança de que pobre gosta de luxo.



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