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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Apagão

BRASÍLIA - Seria cômico se não fosse trágico. Menos de um mês depois de anunciar o programa Luz para Todos, o governo passou pelo vexame de ver o Itamaraty parado e às escuras por mais de uma hora na sexta-feira. Motivo: a CEB (Companhia de Eletricidade de Brasília) cortou a luz por falta de pagamento.
Enquanto isso, Lula visita países árabes com 17 pessoas, logo depois de prometer mundo e fundos à África e de perdoar a dívida da Bolívia com o Brasil. Coisa de pobre. Singela. Bonita. Você não tem onde cair morto, mas divide metade da coxa de frango com o vizinho. E leva solidariedade aos parentes distantes com os quais se sente em dívida-caso da África.
A luz foi cortada bruscamente no Itamaraty. Computadores caíram, faxes pararam, uma senhora ficou presa no elevador, teve uma crise de pressão alta e baixou no serviço médico. Mais sorte teve a Polícia Federal. Apesar de também dever fortunas à CEB, o órgão deu um sorriso, arranjou a grana e quitou o débito em questão de horas. Escapou por pouco do vexame e do pandemônio que atingiram o imponente prédio do Itamaraty, cercado de vidros e de espelhos-'água e habitado pelos funcionários mais chiques da República.
Em comum, Itamaraty e Polícia Federal têm duas coisas. São órgãos e carreiras de Estado, dessas imprescindíveis, com concursos difíceis, servidores de elite. E, apesar da pindaíba, são justamente as áreas em que o governo Lula está indo melhor.
Se o apagão fosse no ministério ou secretaria da Benedita, ou no do Olívio, ou no do Fritsch, ou no do Agnelo, ninguém iria nem perceber. E eles (os órgãos, que fique bem claro) não fariam a menor falta. Mas no Itamaraty e na Polícia Federal?!
Com esse pano de fundo, fica até engraçado o Brasil se arvorar líder mundial e defender com tanto afinco uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ah!, por falar nisso, a dívida com a própria ONU já está lá pelos R$ 300 milhões. Se a organização der uma de CEB, acaba apagando o Brasil.



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