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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A ovelha e o lobo

RIO DE JANEIRO - Perto de fechar o primeiro ano no poder, o presidente da República ainda não superou a sua condição de bom candidato. Ao contrário daqueles frades espanhóis dos romances de cavalaria, dos quais se esperam as piores coisas, de Lula a gente sempre esperava as melhores coisas.
Se, de um lado, louva-se a sua atuação no exterior, onde vende uma imagem nova do Brasil, de outro, no plano doméstico, lamenta-se que não esteja conseguindo de seu partido e das forças que o apoiaram uma coerência mínima com a aura de salvador da lavoura que criaram para ele e que ele próprio deixou ser criada.
Lula está exagerando na superexposição de sua barba, de seu passado de operário, que já parece menor do que a de sua militância de político profissional, que passou a ser desde que criou um partido do qual se tornou régua e compasso.
A atual viagem aos países árabes, por exemplo, é mais um pretexto para ficar fora dos problemas nacionais do que a procura de soluções para os problemas internacionais, que ninguém pediu a Lula para resolver. Devemos elogiar seus discursos em que recomenda maiores investimentos do capital árabe no Brasil, dizendo mais ou menos o óbvio, que podemos ser a porta de entrada para o mercado na América Latina, tradicional cliente da produção ocidental vinda dos Estados Unidos ou da Europa.
É pouco para justificar os gastos com suas comitivas, sua extensa agenda de banquetes e brindes, nos quais geralmente não costuma se sair bem.
O PT vive sua pior crise de identidade agora que está no poder, dividindo-o com petistas de undécima hora e tradicionais adversários, que se mostram surpreendidos com a ovelha que parecia vestir pele de lobo.
O FMI e parte do empresariado nacional, que temiam um PT fundamentalista, reconhecem que estavam enganados. Daí a pergunta que se deve fazer: a quem Lula realmente quis enganar?



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