São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Balanço da Academia Paulista de Letras

JOSÉ RENATO NALINI


A entidade optou, nas três últimas gestões, por consolidar a abertura à comunidade: não é um clube fechado nem despretensioso chá de amigos


Quatro anos de exercício da presidência da Academia Paulista de Letras acrescentaram à minha experiência um saldo significativo.
Aprendi a conviver com a diferença de opiniões, a partir da concepção do que deva ser uma instituição destinada a promover o idioma, a escrita e a leitura.
Senti a dor da perda de primícias da intelectualidade brasileira, que se tornaram amigos fraternos em despojado convívio semanal. Nada como partilhar a rotina de pessoas legendárias para assimilar seus sinais distintivos. Penetrar sua intimidade e descobrir qual é, na realidade, o seu temperamento, caráter, atributos e idiossincrasias.
Foram 12 as defecções nesse período, todas resultantes da morte, a inevitável. Mas a sucessão repôs às 40 cadeiras a consistência da erudição e preservou a mágica das eleições, sempre a atrair talentos dignos de habitar o panteão da imortalidade. Assegurou-se a permanência ininterrupta de sonho que, na França, consolidou-se no século 17.
Coube-me reconstruir o auditório, que ruiu logo no início da gestão. Constatei a dificuldade na obtenção de recursos do mecenato e a falácia dos esquemas normativos que prometem alavancar a cultura.
Os contribuintes com capacidade econômica de incentivar iniciativas institucionais canalizam seus recursos para seus próprios mecanismos. Mas encontrei as portas abertas do governo de São Paulo, que propiciou integral restauração da sede histórica, hoje tombada pelo Condephaat e merecedora de visitação. O espaço térreo está pronto para sediar várias modalidades de eventos, no centro revitalizável que não dispõe de tantas opções.
A continuidade das obras ampliará o espectro de utilização de outros espaços, novamente com dinheiro do povo paulista.
Sem dinheiro para grandes celebrações do seu primeiro centenário -a APL foi instalada em 27/11/ 1909-, recorreu-se à generosa hospitalidade dos que aceitaram homenageá-la. Dezenas de eventos menores se sucederam, coloquiais e com efusiva afetividade.
Esse périplo itinerante permitiu à Academia entrosar-se com muitas instituições, mostrar-se para o governo, para o Congresso, para os tribunais e para amigos das letras. Para eternizar o transcurso, foram publicados dois livros: "Centenário da APL" e "O Mito das Academias", ambos editados com o elevado esmero da Imprensa Oficial.
A Academia Paulista de Letras optou, nas três últimas gestões, por consolidar a abertura à comunidade. Quer se comunicar com todos, principalmente com a infância e a juventude. Não é clube fechado nem despretensioso chá de amigos.
A orientação prevaleceu por maioria expressiva, a resultar em reeleição e a culminar em uma sucessão tranquila, sob o comando de Antonio Penteado Mendonça, partícipe ativo da diretoria nas duas gestões anteriores.
Augura-se à nova diretoria que consiga intensificar atividades que justifiquem e comprovem a atualidade e permanência de uma ideia polêmica e sempre desafiadora: selecionar quatro dezenas de pessoas para representar a cultura de uma unidade da Federação com quase 50 milhões de habitantes.

JOSÉ RENATO NALINI, mestre e doutor em direito constitucional pela USP, é presidente da Academia Paulista de Letras e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

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