São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2000


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FIM MELANCÓLICO

Conforme o previsto, vai chegando a um fim melancólico a CPI do Narcotráfico. A comissão, cujos trabalhos estão previstos para terminar em abril, forneceu subsídios para cassar um deputado federal, dois estaduais e colocar a Justiça no encalço de mais três parlamentares. Não é um resultado desprezível, sobretudo quando se considera que sobre um dos punidos pesam acusações difíceis de acreditar, como a de que teria serrado a um desafeto. Mas, tivesse o comitê sabido conduzir-se, os êxitos poderiam ter sido muito melhores.
A comissão mais de uma vez entrou em rota de colisão com o direito: ostentosas prisões mal fundamentadas foram decretadas, advogados tiveram suas prerrogativas cerceadas e até mesmo decisão do Supremo Tribunal Federal foi desrespeitada. A desmedida ampliação do foco das investigações foi contraproducente. Cerca de 350 pessoas tiveram seu sigilo bancário quebrado. Calcula-se que a CPI conseguirá verificar as movimentações financeiras de uma pequena parcela desse contingente.
Como de hábito, os parlamentares deixaram-se ofuscar pelas luzes da fama fácil. É uma atitude tão velha quanto conhecida da população. Pesquisa Datafolha publicada em dezembro apontava que 56% dos entrevistados achavam que a CPI do Narcotráfico faria apenas uma "encenação" e 62% acreditavam que os deputados atuavam "para ganhar destaque nos meios de comunicação".
O grande mérito dessa CPI, para além de ajudar a pôr atrás das grades gente que não deveria pertencer a um Legislativo, foi mostrar até que ponto o poder público, nas mais variadas esferas, está contaminado pelo crime organizado. Mas se perdeu a oportunidade de realizar um trabalho de investigação que resgatasse a credibilidade das CPIs.


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