|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FIM MELANCÓLICO
Conforme o previsto, vai chegando
a um fim melancólico a CPI do Narcotráfico. A comissão, cujos trabalhos estão previstos para terminar em
abril, forneceu subsídios para cassar
um deputado federal, dois estaduais
e colocar a Justiça no encalço de mais
três parlamentares. Não é um resultado desprezível, sobretudo quando
se considera que sobre um dos punidos pesam acusações difíceis de acreditar, como a de que teria serrado a
um desafeto. Mas, tivesse o comitê
sabido conduzir-se, os êxitos poderiam ter sido muito melhores.
A comissão mais de uma vez entrou
em rota de colisão com o direito: ostentosas prisões mal fundamentadas
foram decretadas, advogados tiveram suas prerrogativas cerceadas e
até mesmo decisão do Supremo Tribunal Federal foi desrespeitada. A
desmedida ampliação do foco das investigações foi contraproducente.
Cerca de 350 pessoas tiveram seu sigilo bancário quebrado. Calcula-se
que a CPI conseguirá verificar as movimentações financeiras de uma pequena parcela desse contingente.
Como de hábito, os parlamentares
deixaram-se ofuscar pelas luzes da
fama fácil. É uma atitude tão velha
quanto conhecida da população. Pesquisa Datafolha publicada em dezembro apontava que 56% dos entrevistados achavam que a CPI do Narcotráfico faria apenas uma "encenação" e 62% acreditavam que os deputados atuavam "para ganhar destaque nos meios de comunicação".
O grande mérito dessa CPI, para
além de ajudar a pôr atrás das grades
gente que não deveria pertencer a um
Legislativo, foi mostrar até que ponto
o poder público, nas mais variadas
esferas, está contaminado pelo crime
organizado. Mas se perdeu a oportunidade de realizar um trabalho de investigação que resgatasse a credibilidade das CPIs.
Texto Anterior: Editorial: EMERGÊNCIA NO AR Próximo Texto: Jacarta - Clóvis Rossi: Dois mundos, mesma cena Índice
|