São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Casa de marimbondos

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Você se lembra dos bancos Marka e FonteCindam, que geraram um escândalo, mobilizaram a Polícia Federal e produziram uma CPI?
Se R$ 1,57 bi causaram aquilo tudo, por que os R$ 90 bi que a União injetou nos bancos estaduais desde 1996 não causam nada? Nem escândalo, nem inquérito, nem CPI.
É simples. Porque os bancos estaduais sempre foram um instrumento político dos governadores, encheram as burras das empresas privadas e todos fecharam um pacto de silêncio.
O banco empregava os amigos, emprestava aos amigos, financiava as eleições dos amigos e era obrigado a comprar os títulos emitidos pelo Estado sempre que a corda apertava. E nada disso era pago depois. Soma daqui, nunca diminui dali, o resultado é um rombo monumental. Que, invariavelmente, cai no colo do governo federal. Ou seja, no seu.
Há bancos estaduais "saneados" duas, três vezes. Quebra, saneia, quebra, saneia, quebra... Recebe montanhas de dinheiro para pagar em suaves prestações mensais, em 30 anos. E acaba quebrando de novo.
Como o Senado é cheio de ex-governadores e a Câmara, de potenciais governadores, simplesmente não há "mão-de-obra" para tocar uma CPI sobre os bancos estaduais. E a CPI dos Bancos, que acabou mansamente, sem ruído, nem tocou no assunto.
A privatização é a melhor saída, inclusive para o Banespa. E o que se discute agora é abrir a venda ou não para compradores estrangeiros.
Quem quer abrir é a área econômica, que segue à risca o manual liberal-globalizante. Quem não quer é a área política, com um bom argumento: o estrangeiro compra o banco pagando juros de 5,75% ao ano nos EUA e passa a cobrar juros de 19% aqui. O que acontece? Os juros que você paga aqui vão quitar rapidamente a dívida que ele tem lá. Um negócio da China!
Antes, pagávamos as orgias políticas dos bancos, ou as orgias bancárias dos políticos. Agora, vamos dar o Banespa de presente para os gringos?


Texto Anterior: Jacarta - Clóvis Rossi: Dois mundos, mesma cena
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Mário Magalhães: A barbárie banalizada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.