São Paulo, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

A ópera-bufa Brasil

SÃO PAULO - Uma vez iniciada a ação judicial que o PT quer propor contra Fernando Henrique Cardoso por ter dito que "a ética do PT é roubar", as coisas desenvolver-se-iam assim, conforme a Folha apurará: FHC convoca Luiz Inácio Lula da Silva como testemunha de defesa. O juiz estranha. FHC explica: "Bom, não foi o Lula quem disse, no horário nobre da TV, que o PT estava desmoralizado? Ninguém fica desmoralizado por ter comportamento ético irreprochável, certo? Então, Lula está dizendo o mesmo que eu disse, com mais conhecimento de causa porque é um dos fundadores do PT e seu presidente de honra".
O juiz cede à lógica fernandohenriquista e chama Lula, que acusa o governo FHC de ter sido também corrupto. FHC se defende: "Minha corrupção foi pontual, não foi sistêmica como a sua".
O juiz estranha. Corrupção é corrupção, acha, mas toca o bonde, que afinal ele é juiz, não candidato.
Lula, furioso, grita: "Mas eu não sabia, eu não sabia, eu juro que eu não sabia. A culpa é do PT".
Uma intelectual, distraída no meio do público, arranca os cabelos: "Oh, não! O Lula também tem ódio da gente. Oh, não!".
José Genoino tenta interferir: "Eu assinei, mas eu também não sabia, juro que eu não sabia de nada".
O juiz bate na mesa com aqueles martelos de filme de Hollywood para tentar restabelecer a ordem. É inútil. Forma-se um coro a duas vozes. "Eu também não sabia/ eu também não sabia/ eu também não sabia", repetem monocordicamente os petistas em seu samba de uma nota só.
Os tucanos vaiam e cantam: "Eu fui ao limite da irresponsabilidade/ vocês também/ vocês também".
O tumulto generaliza-se na sala, de que se aproveita Delúbio Soares para sair de fininho, chamando baixo Duda Mendonça: "Vâmbora que vai sobrar pra nóis, que sabemos e sabíamos". Duda sugere: "Vamos para Dusseldorf".
Pano rápido, muito rápido.

@ - crossi@uol.com.br


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