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CLÓVIS ROSSI
A ópera-bufa Brasil
SÃO PAULO - Uma vez iniciada a ação judicial que o PT quer propor
contra Fernando Henrique Cardoso
por ter dito que "a ética do PT é roubar", as coisas desenvolver-se-iam assim, conforme a Folha apurará: FHC
convoca Luiz Inácio Lula da Silva
como testemunha de defesa. O juiz
estranha. FHC explica: "Bom, não foi
o Lula quem disse, no horário nobre
da TV, que o PT estava desmoralizado? Ninguém fica desmoralizado por
ter comportamento ético irreprochável, certo? Então, Lula está dizendo o
mesmo que eu disse, com mais conhecimento de causa porque é um
dos fundadores do PT e seu presidente de honra".
O juiz cede à lógica fernandohenriquista e chama Lula, que acusa o governo FHC de ter sido também corrupto. FHC se defende: "Minha corrupção foi pontual, não foi sistêmica
como a sua".
O juiz estranha. Corrupção é corrupção, acha, mas toca o bonde, que
afinal ele é juiz, não candidato.
Lula, furioso, grita: "Mas eu não
sabia, eu não sabia, eu juro que eu
não sabia. A culpa é do PT".
Uma intelectual, distraída no meio
do público, arranca os cabelos: "Oh,
não! O Lula também tem ódio da
gente. Oh, não!".
José Genoino tenta interferir: "Eu
assinei, mas eu também não sabia,
juro que eu não sabia de nada".
O juiz bate na mesa com aqueles
martelos de filme de Hollywood para
tentar restabelecer a ordem. É inútil.
Forma-se um coro a duas vozes. "Eu
também não sabia/ eu também não
sabia/ eu também não sabia", repetem monocordicamente os petistas
em seu samba de uma nota só.
Os tucanos vaiam e cantam: "Eu
fui ao limite da irresponsabilidade/
vocês também/ vocês também".
O tumulto generaliza-se na sala, de
que se aproveita Delúbio Soares para
sair de fininho, chamando baixo Duda Mendonça: "Vâmbora que vai sobrar pra nóis, que sabemos e sabíamos". Duda sugere: "Vamos para
Dusseldorf".
Pano rápido, muito rápido.
@ - crossi@uol.com.br
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