|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Canas e bananas
RIO DE JANEIRO - Parece que o presidente dos Estados Unidos descobriu a
pólvora depois da roda, a coisa mais
descoberta por todos. Disse ele que os
norte-americanos têm o vício do petróleo, alertando para o exagerado
consumo do produto fóssil, até agora
a maior e mais popular fonte de energia industrial.
Na mesma ocasião, parece que
Bush citou o exemplo do Brasil, que
desenvolveu, abandonou e novamente está desenvolvendo a tecnologia energética do álcool da cana-de-açúcar, que pode ser menos potente
do que o petróleo, mas é renovável ao
infinito e com menos carga poluidora. Além de gerar outros subprodutos, como a cachaça e a rapadura.
Tudo bem. É para a frente que se
deve andar, e nada demais que os Estados Unidos também andem para a
frente. O risco que corremos é que
transformem o Brasil num imenso,
num formidável canavial para abastecer as goelas dos países industrializados, que, mais cedo ou tarde, e enquanto não encontrarem outra opção energética, terão de enfrentar o
desafio da escassez ou mesmo da falta do petróleo.
Houve tempo em que o mundo
mais rico e poderoso olhava a América Latina, sobretudo a Guatemala e o
Brasil, como um imenso bananal, daí
a expressão "Banana's Republics".
Produto tropical, rico em potássio e
em outros sais minerais, a banana
chega a ser, ainda, uma fruta para os
ricos lá de cima. Aqui é fruto de pobre
mesmo. Cuba e Brasil poderão integrar a nova comunidade da "Cana's
Republics". O petróleo será poupado
para abastecer a petroquímica, que
me parece não ter ainda alternativas
viáveis.
Fico pensando na Amazônia, no
cerrado, nos imensos pastos que formam nossas reservas de alimento e
desenvolvimento. A gula pela cana
será tal e tanta que desmentirá as bagaceiras e o fogo-morto dos romances
de José Américo e José Lins do Rego.
Teremos de volta o Vitorino Papa
Rabo.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Fidelização do pobre Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Trindade maldita Índice
|