|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCELO BERABA
Rio, peste e guerra civil
RIO DE JANEIRO - As autoridades sanitárias resolveram, enfim, reagir e
enfrentar com táticas bélicas a epidemia de dengue que desde o início do
ano tomou conta do Rio. Para 21 moradores da cidade, no entanto, infelizmente essa decisão chega tarde,
pois já estão mortos.
A maioria morreu sem ter tomado
conhecimento de uma das maiores
barbaridades ditas por uma autoridade pública, um ato falho em si condenatório se houvesse justiça para
crimes de omissão e incompetência.
Refiro-me ao discurso de posse do ministro Barjas Negri quando substituiu José Serra: "Declaramos guerra
à dengue a partir de agora. Isso começa no dia de hoje e só pára quando
acabar a dengue". A doença já tinha
atingido mais de 20 mil pessoas.
Ao contrário do que informam as
autoridades agora empenhadas em
mobilizar um grande mutirão contra
o mosquito, não pára de crescer o número de infectados e de mortes.
É um descalabro que o resto do país
não consegue dimensionar porque
talvez em nenhum outro lugar tenha
havido a combinação de tanta negligência por parte do Ministério da
Saúde (José Serra), do governo estadual (Anthony Garotinho) e do governo municipal (Cesar Maia). Todos, neste período, envolvidos prioritariamente com a disputa presidencial.
Como se não bastasse a peste, o Rio
vive neste momento outra desgraça,
que é a guerra deflagrada pelos comandos criminosos e pela PM e que
aterroriza principalmente a zona
norte e os subúrbios.
Na primeira madrugada de março,
o Comando Vermelho foi para as
ruas com 27 carros de combate e 14
motocicletas para tomar de assalto
um morro dominado pelo Terceiro
Comando. No dia seguinte, o TC juntou mais de 200 "soldados" -isso
mesmo, 200- para responder ao
ataque. Nas barbas da polícia.
E a gente ainda tem de aturar as
propagandas do governador, que se
gaba dos resultados obtidos em segurança pública! É um milagre que a cidade, que acaba de completar 437
anos, resista e continue maravilhosa.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Guerra é guerra Próximo Texto: José Sarney: Democracia simulada Índice
|