São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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MARCELO BERABA

Rio, peste e guerra civil

RIO DE JANEIRO - As autoridades sanitárias resolveram, enfim, reagir e enfrentar com táticas bélicas a epidemia de dengue que desde o início do ano tomou conta do Rio. Para 21 moradores da cidade, no entanto, infelizmente essa decisão chega tarde, pois já estão mortos.
A maioria morreu sem ter tomado conhecimento de uma das maiores barbaridades ditas por uma autoridade pública, um ato falho em si condenatório se houvesse justiça para crimes de omissão e incompetência. Refiro-me ao discurso de posse do ministro Barjas Negri quando substituiu José Serra: "Declaramos guerra à dengue a partir de agora. Isso começa no dia de hoje e só pára quando acabar a dengue". A doença já tinha atingido mais de 20 mil pessoas.
Ao contrário do que informam as autoridades agora empenhadas em mobilizar um grande mutirão contra o mosquito, não pára de crescer o número de infectados e de mortes.
É um descalabro que o resto do país não consegue dimensionar porque talvez em nenhum outro lugar tenha havido a combinação de tanta negligência por parte do Ministério da Saúde (José Serra), do governo estadual (Anthony Garotinho) e do governo municipal (Cesar Maia). Todos, neste período, envolvidos prioritariamente com a disputa presidencial.
Como se não bastasse a peste, o Rio vive neste momento outra desgraça, que é a guerra deflagrada pelos comandos criminosos e pela PM e que aterroriza principalmente a zona norte e os subúrbios.
Na primeira madrugada de março, o Comando Vermelho foi para as ruas com 27 carros de combate e 14 motocicletas para tomar de assalto um morro dominado pelo Terceiro Comando. No dia seguinte, o TC juntou mais de 200 "soldados" -isso mesmo, 200- para responder ao ataque. Nas barbas da polícia.
E a gente ainda tem de aturar as propagandas do governador, que se gaba dos resultados obtidos em segurança pública! É um milagre que a cidade, que acaba de completar 437 anos, resista e continue maravilhosa.



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